São Paulo, sexta-feira, 26 de novembro de 2004

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PANDEMIA ANUNCIADA

Infectologistas da Organização Mundial da Saúde voltaram a anunciar ontem a inevitável eclosão, em breve, de uma nova pandemia global de gripe, mais ou menos nos mesmos moldes da gripe espanhola de 1918-19, que matou entre 20 e 40 milhões de pessoas. Sabem até de onde virá a ameaça: das galinhas, como a grande maioria das variantes do vírus influenza, que causa a gripe.
Os sinais de que o próximo surto se aproxima estão nos focos de gripe aviária pela cepa H5N1, que desde dezembro do ano passado vêm irrompendo na Ásia. Embora essa variante já tenha rompido a barreira das espécies e infectado humanos, a maioria dos quais morreu, não se verificou a transmissão de pessoa a pessoa, o que vem mantendo a ameaça sob controle. O risco é que a cepa aviária infecte alguém que carregue também o vírus da gripe humana, e os microrganismos troquem material genético, dando lugar a uma mutação que poderia ser letal e transmissível entre pessoas.
É para essa eventualidade que os serviços de vigilância epidemiológica têm de preparar-se. Ao contrário de 1918-19, a eclosão de uma nova pandemia de gripe não precisa dar lugar a vários milhões de óbitos. A medicina evoluiu consideravelmente nas últimas décadas -e podem-se fazer vacinas para prevenir o mal.
O problema é que a única técnica comercialmente viável de fabricação de vacina para a gripe utiliza ovos de galinha. Não se pode descartar um cenário em que a evolução da gripe do frango inviabilize a utilização dessa tecnologia. Assim, é reconfortante verificar que o Instituto Butantan, além de estar prestes a adquirir a auto-suficiência na produção de vacinas licenciadas, tenta desenvolver por sua própria conta uma técnica que prescinda dos ovos de galinha.
No contexto de uma pandemia, os países que não forem capazes de fabricar suas próprias vacinas terão de se conformar em arrematar, sabe-se lá a que preço, os excedentes das nações tecnologicamente capazes.


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