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JOSÉ SARNEY
Revoada de estrelas
O Brasil passa por um momento
de curiosidade internacional. A
biografia do presidente Lula, de operário presidente, desperta uma atenção grande e excita indagações. Em seguida, o tamanho do Brasil e sua presença mundial fazem com que sejamos uma potência emergente.
O presidente Lula, numa postura
inesperada, tem excepcional gosto pela política externa e tem sido um viajante ávido por aumentar as nossas
trocas comerciais. Seu estilo é bem
pessoal.
Veja-se o desfile de chefes de Estado
deste mês de novembro. Essas viagens
internacionais são precedidas de longos períodos de negociações, nos
quais os acordos são propostos, discutidos e preparados para serem assinados por ocasião da visita. A rotina das
visitas é sempre estafante e monótona
para o visitante e para quem o recebe.
Elas têm um cardápio que inclui sempre audiências aos três Poderes e banquetes de um lado e do outro. Tudo fixado em fórmulas de cortesia, "seja
bem-vindo, nossas relações são boas,
mas a cooperação aumentará depois
de sua estada em nosso país". Tudo
precedido de fichas em que constam
os assuntos a serem discutidos. Quando eu viajava ou recebia presidentes,
estudava o país, as relações bilaterais e
multilaterais, tudo bem organizado
num subsídio que se chama "maço",
que o Itamaraty prepara sempre com
competência.
Com uma boa vontade rara e simpatia, o presidente da China, Hu Jintao,
foi recebido pelo Congresso. Com a
China, o nosso destino aponta uma
grande cooperação e, hoje, já existe
uma parceria estratégica. Deng Xiaoping profetizou que o século 21 seria
da costa da Ásia e da América do Sul
-Brasil, é claro.
Depois foi a vez do presidente Roh
Moo-hyun, da Coréia do Sul, ativista
de direitos humanos. É um país sinônimo de sucesso. Saiu da quase miséria depois da guerra dos anos 50 para
um PIB maior que o do Brasil. Aqui temos uma grande colônia coreana,
que, em algumas décadas, será como a
japonesa.
Tran Duc Luong é o presidente do
Vietnã. Simples, modesto, reflete toda
a sofrida história de seu país. Está
abrindo a economia de mercado, com
a fórmula "doi moi", igual ao capitalismo chinês, mas com o pensamento
de Ho Chi Minh. Ele me disse que tinha técnicos de futebol no Vietnã.
Disse-lhe que eles não ensinariam como ganhar a Copa.
O presidente da Rússia, o senhor Putin, que nas fotografias sempre apresenta uma cara amarrada, é um jovem
simpático, sabe rir, é lutador de judô e
tem ares de saber zangar-se. É egresso
dos quadros do Estado e tem tido mão
forte contra os que querem a independência da Tchetchênia. Tem um gosto
grande pelo futebol e sugeriu uma
partida entre os parlamentares do
Brasil e os russos. Achei boa a idéia
-por delicadeza é claro-, mas logo
adverti que eu não figuraria na delegação, pois nem para árbitro tenho disposição. Para esse jogo é que o senador Antonio Carlos disse ser imprescindível o senador Ney Suassuna como goleiro.
Para terminar o desfile, Paul Martin,
do Canadá, com a luta da Bombardier
e Embraer na cabeça.
Como sobremesa, teremos, hoje, o
rei de Marrocos, Mohamed 6º, formado em direito e em política, mas soberano pela herança. E, finalizando, Pervez Musharraf, general "reformista
modernizante" do Paquistão.
Como diz o Macaco Simão, não é
mole.
José Sarney escreve às sextas-feiras nesta coluna.
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