São Paulo, sexta-feira, 26 de novembro de 2004 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES Um humanista
MARCO MACIEL
Roberto Campos, em 1992, ao analisar as obras de lorde Keynes e Frederick Hayek, observou que este costumava afirmar que "não era bom economista quem fosse apenas economista". Celso Furtado, antes de ser um economista, era um pensador social e, sobretudo, um humanista, atento gassetianamente a tudo o que dissesse respeito ao homem e sua circunstância. Observe-se a propósito o que pensava Celso Furtado em entrevista no jornal "A União", da Paraíba, após sua eleição para a Academia Brasileira de Letras: "Quando, finalmente, aos 26 anos de idade, comecei a estudar economia de maneira sistemática, minha visão do mundo já estava definida. Assim, a economia não chegaria a ser mais um instrumental que me permitia com maior eficácia tratar problemas que vinham da observação da história ou da vida dos homens em sociedade. Pouca influência teve a economia, portanto, na conformação do meu espírito. Nunca pude compreender a existência de um problema estritamente econômico. Por exemplo, a inflação nunca foi, em meu espírito, outra coisa senão a manifestação de conflitos de certo tipo entre grupos sociais". Sua obra, especialmente a "Formação Econômica do Brasil", atesta a percepção metaeconômica -posto que social, cultural e política- de sua concepção do processo de desenvolvimento, combinando, assim, eficácia econômica e justiça social. Foi, portanto, um humanista para quem nada do que era humano lhe era indiferente. "Caio Prado, Sérgio Buarque de Holanda, Gilberto Freyre, Celso Furtado, Raymundo Faoro e precursores de gênio como Nabuco voltaram-se para essas estruturas do passado a fim de nelas encontrar a chave do presente", lembrou certa vez o embaixador Rubens Ricupero. E acrescenta: "A eles devemos as referências e os parâmetros obrigatórios para qualquer discussão ou balanço da experiência histórica brasileira". Depois de haver, no governo do presidente José Sarney, sido colega do mestre Celso Furtado, ele ministro da Cultura e eu chefe do Gabinete Civil, voltei a ouvir, após o meu ingresso na ABL, as suas probas e densas lições, tendo sempre ao lado sua querida Rosa, que participava intensamente de sua vida, com amorosa e total dedicação. No seu desaparecimento, resta o conforto de saber que a morte, como disse Rui Barbosa, "não divorcia, aproxima", e suas idéias continuarão a pervadir corações e mentes de quantos buscam consolidar a democracia e o desenvolvimento integrado do país. Marco Maciel, 64, é senador pelo PFL-PE e membro da Academia Brasileira de Letras. Foi vice-presidente da República (governo Fernando Henrique), ministro da Educação (governo Sarney) e governador de Pernambuco (1978-82). Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Jorge Zaverucha: Semidemocracia Índice |
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