São Paulo, quinta-feira, 26 de dezembro de 2002

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PT A PRAZO

Está estabelecido o discurso sobre a economia que o PT adotará no início do governo Luiz Inácio Lula da Silva. A fim de tentar evitar a frustração do eleitorado, petistas divulgam que os primeiros três ou quatro semestres serão "de transição".
A fórmula, propositalmente vaga, indica a tentativa de transferir para o governo FHC os ônus do provável crescimento baixo e suas consequências danosas na renda e no emprego. Foi essa a mensagem enunciada pelo futuro ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, em entrevista à Folha publicada no domingo. Para o caso de a frustração econômica prolongar-se, o sucessor de Pedro Malan já ensaia outra "justificativa": o cenário externo restritivo.
A habilidade retórica de Palocci por pouco não logra evitar que o leitor capte o significado mais profundo de seu discurso. O que o futuro titular da Fazenda está dizendo é que vai seguir administrando o remédio amargo da contenção do crescimento econômico na dose e no tempo que forem necessários.
Palocci se vale de dois artifícios para tentar convencer o público de que, sob Lula, a administração do receituário recessivo será menos danosa. Um deles é o de que a ênfase na política social prometida pelo PT amenizaria os efeitos da letargia econômica. Ora, basta aplicar o regime de superávit fiscal que alguns julgam ser o "necessário" para que um forte impacto negativo se dê, inevitavelmente, sobre o gasto social.
Mas o outro argumento de Antonio Palocci Filho preocupa mais. O futuro ministro diz que a divisão de tarefas no PT está clara: ele cuidará da economia, José Dirceu, da política e Lula, do social. Ninguém deseja a volta do populismo na condução da economia. Mas render-se à tese de que a Fazenda deve trabalhar livre de todas as determinantes políticas equivale, na prática, a deixar o terreno das decisões econômicas demasiadamente aberto para os interesses do mercado financeiro.


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