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PT A PRAZO
Está estabelecido o discurso
sobre a economia que o PT adotará no início do governo Luiz Inácio
Lula da Silva. A fim de tentar evitar a
frustração do eleitorado, petistas divulgam que os primeiros três ou quatro semestres serão "de transição".
A fórmula, propositalmente vaga,
indica a tentativa de transferir para o
governo FHC os ônus do provável
crescimento baixo e suas consequências danosas na renda e no emprego. Foi essa a mensagem enunciada pelo futuro ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, em entrevista à Folha publicada no domingo.
Para o caso de a frustração econômica prolongar-se, o sucessor de Pedro
Malan já ensaia outra "justificativa":
o cenário externo restritivo.
A habilidade retórica de Palocci por
pouco não logra evitar que o leitor
capte o significado mais profundo de
seu discurso. O que o futuro titular
da Fazenda está dizendo é que vai seguir administrando o remédio amargo da contenção do crescimento econômico na dose e no tempo que forem necessários.
Palocci se vale de dois artifícios para tentar convencer o público de que,
sob Lula, a administração do receituário recessivo será menos danosa.
Um deles é o de que a ênfase na política social prometida pelo PT amenizaria os efeitos da letargia econômica. Ora, basta aplicar o regime de superávit fiscal que alguns julgam ser o
"necessário" para que um forte impacto negativo se dê, inevitavelmente, sobre o gasto social.
Mas o outro argumento de Antonio
Palocci Filho preocupa mais. O futuro ministro diz que a divisão de tarefas no PT está clara: ele cuidará da
economia, José Dirceu, da política e
Lula, do social. Ninguém deseja a
volta do populismo na condução da
economia. Mas render-se à tese de
que a Fazenda deve trabalhar livre de
todas as determinantes políticas
equivale, na prática, a deixar o terreno das decisões econômicas demasiadamente aberto para os interesses
do mercado financeiro.
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