São Paulo, quinta-feira, 26 de dezembro de 2002

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ELIANE CANTANHÊDE

Os "sem-diploma"

BRASÍLIA - O primeiro diploma de Luiz Inácio Lula da Silva foi o de torneiro mecânico, lá se vão muitos anos. O segundo é, agora, o de presidente da República do Brasil.
O único diploma do seu vice, José Alencar, é "o diploma da vida". Pobretão, ele progrediu e hoje é dono da poderosa Coteminas.
O virtual presidente da Câmara, José Paulo Cunha, é outro que ascende ao poder com o PT. Metalúrgico, ele só tem segundo grau. Já deputado, tentou a faculdade de Direito. Parou no terceiro ano por falta de tempo.
Isso significa que os três políticos da linha sucessória direta não têm cursos superiores. Quando Lula se ausentar, Alencar assume. Quando os dois se ausentarem, teremos João Paulo na Presidência.
Como tudo o que envolve o futuro governo do PT, você pode olhar e analisar essa circunstância sob dois ângulos. Um é o da desconfiança daqueles que consideram diploma, cultura, densidade intelectual indispensáveis para o desafio de presidir um país tão grande e tão complexo.
O outro ângulo é o da boa vontade, da esperança, da expectativa positiva dos que acham que o importante é ter experiência, vivência, conhecimento do país e "jeito para a coisa". Ou seja, capacidade de liderança e articulação, atributos que sobram em Lula. Porque, para esses, os da boa-vontade, o fundamental não é ter diploma e falar línguas e sim governar para a maioria e combater a miséria.
O fato é que o PT até agora está mudando muito pouco, seja na condução da economia, nas negociações político-partidárias, ou em relação ao "Tio Sam". Mas você quer uma mudança maior do que essa? Saem os doutores tucanos, à frente o sólido intelectual FHC e sua Ruth, e entram os "sem-diploma" de Lula.
Não adianta empurrar a discussão para debaixo do tapete, só para não melindrar Lula. Porque na verdade, querendo ou não, também está em jogo, sim, o valor do diploma na política. Entre tantas outras coisas, uma aposta e tanto para os próximos quatro ou oito anos.


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