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ELIANE CANTANHÊDE
Os "sem-diploma"
BRASÍLIA - O primeiro diploma de Luiz Inácio Lula da Silva foi o de torneiro mecânico, lá se vão muitos anos. O segundo é, agora, o de presidente da República do Brasil.
O único diploma do seu vice, José Alencar, é "o diploma da vida". Pobretão, ele progrediu e hoje é dono da poderosa Coteminas.
O virtual presidente da Câmara, José Paulo Cunha, é outro que ascende
ao poder com o PT. Metalúrgico, ele
só tem segundo grau. Já deputado,
tentou a faculdade de Direito. Parou
no terceiro ano por falta de tempo.
Isso significa que os três políticos da
linha sucessória direta não têm cursos superiores. Quando Lula se ausentar, Alencar assume. Quando os
dois se ausentarem, teremos João
Paulo na Presidência.
Como tudo o que envolve o futuro
governo do PT, você pode olhar e
analisar essa circunstância sob dois
ângulos. Um é o da desconfiança daqueles que consideram diploma, cultura, densidade intelectual indispensáveis para o desafio de presidir um
país tão grande e tão complexo.
O outro ângulo é o da boa vontade,
da esperança, da expectativa positiva
dos que acham que o importante é ter
experiência, vivência, conhecimento
do país e "jeito para a coisa". Ou seja,
capacidade de liderança e articulação, atributos que sobram em Lula.
Porque, para esses, os da boa-vontade, o fundamental não é ter diploma
e falar línguas e sim governar para a
maioria e combater a miséria.
O fato é que o PT até agora está
mudando muito pouco, seja na condução da economia, nas negociações
político-partidárias, ou em relação
ao "Tio Sam". Mas você quer uma
mudança maior do que essa? Saem
os doutores tucanos, à frente o sólido
intelectual FHC e sua Ruth, e entram
os "sem-diploma" de Lula.
Não adianta empurrar a discussão
para debaixo do tapete, só para não
melindrar Lula. Porque na verdade,
querendo ou não, também está em
jogo, sim, o valor do diploma na política. Entre tantas outras coisas, uma
aposta e tanto para os próximos quatro ou oito anos.
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