São Paulo, quinta-feira, 26 de dezembro de 2002

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GABRIELA WOLTHERS

Tem gente sobrando

RIO DE JANEIRO - Agora fechado, o ministério de Luiz Inácio Lula da Silva traz boas expectativas e uma forte preocupação. Apesar de as atenções estarem mais voltadas para a economia, é alentador que Lula tenha escolhido uma pessoa de sua confiança para o Ministério da Justiça. Márcio Thomaz Bastos assume uma das pastas mais conturbadas da era FHC, tão conturbada que chegou a ter nove titulares em oito anos de governo.
Mais alentador ainda é o novo ministro ter resumido sua prioridade dizendo que "o que combate a criminalidade não é o tamanho da pena, mas a certeza da punição". Um bom começo.
Por mais irônico que seja, a preocupação fica por conta da área social, justamente a que Lula disse que iria tratar com mais carinho. Como todo mundo sabe, o próximo governo terá um Orçamento apertado. E, quando falta dinheiro, a lógica manda centrar esforços para que não haja pulverização do pouco que se tem. Pois a análise do organograma do ministério deixa claro que há uma tendência a sobreposição de funções. Ficou parecendo que Lula teve de criar cargos para encaixar sua tropa.
Se o PT ainda está atrás de recursos para garantir o sucesso da Secretaria de Segurança Alimentar e Combate à Fome de José Graziano, seria mesmo necessário um Ministério da Assistência e Promoção Social para Benedita da Silva? Se não bater cabeça com Graziano, escapará ela de trombar com Tarso Genro, da Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Social? E por falar em Tarso Genro, conseguirá ele tomar alguma medida que não interfira nas pastas de Olívio Dutra (Cidades) ou de Ciro Gomes (Integração Nacional)?
O mais grave aqui não é o emprego público que cada um desses personagens conseguiu. Nem ponho em dúvida que eles estejam com a melhor das boas vontades. O problema é que cada ministério ou secretaria clama por uma estrutura que consome tempo e dinheiro para ser montada -e não consta que o Brasil tenha mais tempo ou dinheiro a perder.


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