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SERGIO TORRES
Futura ex-lagoa
RIO DE JANEIRO - O mapa do Estado do Rio tende a ser modificado com o
gradual desaparecimento de uma de
suas mais belas lagoas, a de Piratininga.
O esvaziamento da lagoa, uma jóia
do privilegiado litoral fluminense, começou nos anos 40, com a abertura
de um canal de ligação com a vizinha
lagoa de Itaipu. Em um nível mais alto, a água de Piratininga passou a escoar para Itaipu.
Veio, nas décadas seguintes, a urbanização caótica, com suas consequências: despejo de esgoto, aterros,
favelas e uma especulação imobiliária gananciosa ao extremo, que gerou a incrível venda de lotes submersos. Apostando no fim da lagoa, houve gente que vendeu e comprou lotes
que um dia viriam à tona. Em vários
deles já há casas construídas.
A descrição mostra que o problema
é velho. O que espanta é que nem os
sucessivos governos estaduais nem a
Prefeitura de Niterói (onde fica a lagoa) conseguiram resolvê-lo.
Os planos de recuperação são muitos, anunciados à média de quase um
por ano. Os poucos implantados não
tiveram sequência. Foram esquecidos. O projeto deste ano prevê comportas, dragagem e até um túnel entre a lagoa e a praia de Piratininga.
Já há até firma contratada pelo governo estadual, por R$ 2,5 milhões.
Primeira de 15 lagoas entre a barra
da baía de Guanabara e a cidade de
Cabo Frio -uma orla de 150 km de
restingas-, a de Piratininga tem a
diferenciá-la a proximidade das
montanhas. Vertentes florestadas da
serra Grande começam a partir do
espelho d'água da lagoa. Uma paisagem deslumbrante que está sumindo.
Hoje, a lagoa tem 2,8 quilômetros
quadrados de área. Já foi muito
maior. Para comparar o espaço atual
com o original, basta subir ao mirante do morro da Viração. A 300 m de
altura, avista-se até onde a lagoa ia e
seus limites de agora. A perda parece
irremediável. A mancha urbana já
ocupou o espaço vazio.
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