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São Paulo, segunda-feira, 27 de janeiro de 2003

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VINICIUS TORRES FREIRE

Lula, FHC em conserva?

SÃO PAULO - Foi meio grotesco aquele meio ponto percentual que o Banco Central de Lula da Silva pendurou na atroz taxa de juros deixada por FHC. Afora os afeitos à escolástica economicista, pouca gente não bitolada vê utilidade no tal meio ponto, um salamaleque para o mercado.
A inflação, seja qual for, pisará nos juros astronômicos distraída, como dizia a velha canção, sejam eles de 28% ou 20%. Regular milimetricamente os juros por modelo matemático parece bobice. Todos os modelos são ruins, embora alguns sejam úteis, já disse um econometrista que entende dessas coisas.
O objetivo era "coordenar expectativas"? Barretada política? Também não cola. Pelo menos nos discursos, o presidente do BC parece dizer: 1. A porta do sistema de metas de inflação foi arrombada; 2. Se vier mais inflação incontrolável por recessão razoável, as metas ficarão tão largas que as calças do sistema cairão e o rei ficará nu, adeus modelo; 3. A política monetária muda como a moda, e também o sistema de metas se encaminha para o fundo do guarda-roupas dos banqueiros centrais.
Se é para ter expectativa, a mais razoável é: não sei que bicho vai dar.
Isto posto, dizer que Lula da Silva será conservador na economia e apenas assistencialista é injusto (o PT tem só 26 dias de poder federal) e temerário. Por ora, o governo parece só confuso e inexperiente.
Conservadora é a reforma da Previdência, centrada em um aspecto do problema fiscal (corte de gastos do governo). O debate é pobre. Um exemplo só. Fala-se do déficit do INSS como se fosse problema. Cerca de 80% do rombo é benefício para miserável rural, que jamais contribuirá. Isso é transferência de renda, não é Previdência. Mas trata-se de justiça social financiada por um imposto ruim (Cofins), que torna as empresas ineficientes e prejudica o emprego.
Reforma tributária? Parece inviável. Discussão séria é como fazer, aos poucos, ajustes decentes na distribuição de impostos e benefícios sociais. O resto, é a agenda FHC em conserva.


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