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VINICIUS TORRES FREIRE
Lula, FHC em conserva?
SÃO PAULO - Foi meio grotesco aquele meio ponto percentual que o
Banco Central de Lula da Silva pendurou na atroz taxa de juros deixada
por FHC. Afora os afeitos à escolástica economicista, pouca gente não bitolada vê utilidade no tal meio ponto,
um salamaleque para o mercado.
A inflação, seja qual for, pisará nos
juros astronômicos distraída, como
dizia a velha canção, sejam eles de
28% ou 20%. Regular milimetricamente os juros por modelo matemático parece bobice. Todos os modelos
são ruins, embora alguns sejam úteis,
já disse um econometrista que entende dessas coisas.
O objetivo era "coordenar expectativas"? Barretada política? Também
não cola. Pelo menos nos discursos, o
presidente do BC parece dizer: 1. A
porta do sistema de metas de inflação
foi arrombada; 2. Se vier mais inflação incontrolável por recessão razoável, as metas ficarão tão largas que as
calças do sistema cairão e o rei ficará
nu, adeus modelo; 3. A política monetária muda como a moda, e também o sistema de metas se encaminha para o fundo do guarda-roupas
dos banqueiros centrais.
Se é para ter expectativa, a mais razoável é: não sei que bicho vai dar.
Isto posto, dizer que Lula da Silva
será conservador na economia e apenas assistencialista é injusto (o PT
tem só 26 dias de poder federal) e temerário. Por ora, o governo parece só
confuso e inexperiente.
Conservadora é a reforma da Previdência, centrada em um aspecto do
problema fiscal (corte de gastos do
governo). O debate é pobre. Um
exemplo só. Fala-se do déficit do INSS
como se fosse problema. Cerca de
80% do rombo é benefício para miserável rural, que jamais contribuirá.
Isso é transferência de renda, não é
Previdência. Mas trata-se de justiça
social financiada por um imposto
ruim (Cofins), que torna as empresas
ineficientes e prejudica o emprego.
Reforma tributária? Parece inviável. Discussão séria é como fazer, aos
poucos, ajustes decentes na distribuição de impostos e benefícios sociais. O
resto, é a agenda FHC em conserva.
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