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Gangorra global
Volatilidade das Bolsas cobra aperfeiçoamento da supervisão e maior regulamentação dos mercados financeiros
NA ÚLTIMA semana, as
Bolsas dos países desenvolvidos e em desenvolvimento, cada
vez mais integradas, apresentaram grandes flutuações simultâneas. Alguns índices tiveram
quedas expressivas, acima de
5%, para no dia seguinte valorizar outros 5% e, no terceiro dia,
apresentar nova desvalorização.
As incertezas sobre os rumos
da economia americana e, por
conseguinte, da economia mundial, bem como sobre a solidez do
sistema bancário internacional,
ricochetearam nas expectativas
dos investidores, reforçando os
comportamentos de manada. Se
as expectativas se deterioravam,
emitiam ordens de vendas, a fim
de preservar seus patrimônios
-e os preços caíam. No dia seguinte, diante de informações favoráveis, davam ordens de compra -e os preços subiam.
Esse comportamento tem sido
potencializado com a disseminação, entre as grandes instituições
financeiras, de sistemas de monitoramento e gestão de riscos
cada vez mais semelhantes entre
si. São programas de computador que acompanham os preços
de centenas de ativos em diferentes mercados e moedas. Emitem decisões de venda ou de
compra automaticamente, acentuando a volatilidade dos papéis.
As autoridades econômicas injetaram mais de US$ 3,2 trilhões
nos mercados e reduziram as taxas de juros (a básica americana
caiu de 5,25% para 3,5% ao ano)
a fim de facilitar a recomposição
das carteiras dos investidores.
Promoveram também renegociações de dívidas, pacotes fiscais
e mecanismos de salvamento de
seguradoras. Os grandes bancos
globais, que tiveram de registrar
enormes prejuízos, fizeram um
aumento de capital de US$ 59,4
bilhões, com o apoio dos fundos
de investimentos soberanos, cujo estoque de capital é estimado
em US$ 3,2 trilhões.
Enfim, as instituições públicas
e privadas procuram manter a
ordem monetária e financeira
global em funcionamento. O colapso não interessa a ninguém. O
principal termômetro do estado
de espírito das finanças, os juros
dos títulos de dez anos do Tesouro americano, depois de cair a
3,2% ao ano no início da semana,
voltaram a subir para 3,64% na
quinta-feira, indicando percepção menor de risco. Evidentemente, isso não significa que a
confiança tenha sido restaurada.
A turbulência deverá persistir
ainda por algum tempo.
Depois que o vendaval passar,
seria importante retomar a discussão sobre a arquitetura financeira internacional. A origem da
crise, as hipotecas de alto risco
das famílias americanas que foram repassadas para milhares de
investidores, explicitou as fragilidades da auto-regulamentação
predominante nos grandes centros financeiros mundiais.
Houve evidentes conflitos de
interesse entre bancos e agências de classificação de risco, negligência nos processos de transferências de riscos e falhas na supervisão das instituições. As autoridades devem recolocar na
agenda a discussão da supervisão
e da regulamentação das instituições financeiras, que operam
cada vez mais em escala global.
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