São Paulo, domingo, 27 de janeiro de 2008

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Gangorra global

Volatilidade das Bolsas cobra aperfeiçoamento da supervisão e maior regulamentação dos mercados financeiros

NA ÚLTIMA semana, as Bolsas dos países desenvolvidos e em desenvolvimento, cada vez mais integradas, apresentaram grandes flutuações simultâneas. Alguns índices tiveram quedas expressivas, acima de 5%, para no dia seguinte valorizar outros 5% e, no terceiro dia, apresentar nova desvalorização.
As incertezas sobre os rumos da economia americana e, por conseguinte, da economia mundial, bem como sobre a solidez do sistema bancário internacional, ricochetearam nas expectativas dos investidores, reforçando os comportamentos de manada. Se as expectativas se deterioravam, emitiam ordens de vendas, a fim de preservar seus patrimônios -e os preços caíam. No dia seguinte, diante de informações favoráveis, davam ordens de compra -e os preços subiam.
Esse comportamento tem sido potencializado com a disseminação, entre as grandes instituições financeiras, de sistemas de monitoramento e gestão de riscos cada vez mais semelhantes entre si. São programas de computador que acompanham os preços de centenas de ativos em diferentes mercados e moedas. Emitem decisões de venda ou de compra automaticamente, acentuando a volatilidade dos papéis.
As autoridades econômicas injetaram mais de US$ 3,2 trilhões nos mercados e reduziram as taxas de juros (a básica americana caiu de 5,25% para 3,5% ao ano) a fim de facilitar a recomposição das carteiras dos investidores. Promoveram também renegociações de dívidas, pacotes fiscais e mecanismos de salvamento de seguradoras. Os grandes bancos globais, que tiveram de registrar enormes prejuízos, fizeram um aumento de capital de US$ 59,4 bilhões, com o apoio dos fundos de investimentos soberanos, cujo estoque de capital é estimado em US$ 3,2 trilhões.
Enfim, as instituições públicas e privadas procuram manter a ordem monetária e financeira global em funcionamento. O colapso não interessa a ninguém. O principal termômetro do estado de espírito das finanças, os juros dos títulos de dez anos do Tesouro americano, depois de cair a 3,2% ao ano no início da semana, voltaram a subir para 3,64% na quinta-feira, indicando percepção menor de risco. Evidentemente, isso não significa que a confiança tenha sido restaurada. A turbulência deverá persistir ainda por algum tempo.
Depois que o vendaval passar, seria importante retomar a discussão sobre a arquitetura financeira internacional. A origem da crise, as hipotecas de alto risco das famílias americanas que foram repassadas para milhares de investidores, explicitou as fragilidades da auto-regulamentação predominante nos grandes centros financeiros mundiais.
Houve evidentes conflitos de interesse entre bancos e agências de classificação de risco, negligência nos processos de transferências de riscos e falhas na supervisão das instituições. As autoridades devem recolocar na agenda a discussão da supervisão e da regulamentação das instituições financeiras, que operam cada vez mais em escala global.


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