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CLÓVIS ROSSI
Desligar o piloto automático
DAVOS - Está chegando a hora em
que o governo brasileiro será cobrado, pelo mundo rico, a desligar o piloto automático com que vem sendo conduzida a economia a rigor
desde o segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso.
Até agora, foi só apertar o botão
"enter" e rodava o programa ortodoxo: superávit fiscal primário
muito elevado; câmbio flutuante,
mas que levou o real a flutuar sempre para cima; e política monetária
apertada (juros altos).
Bom, ontem, até o diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional, Dominique Strauss-Khan, cobrou mais gastos governamentais,
nos países que têm margem de manobra, para içar o mundo da crise. O
Brasil tem margem? Eu acho que
sim, porque o governo arrecada
mais do que gasta, se forem excluídos os juros.
Gastos com juros são entesourados, não voltam para o consumo. E
estimular o consumo é outra recomendação consensual do mundo de
Davos. A pregação de Strauss-Khan
certamente fortalecerá a mão daqueles que querem gastar mais no
governo.
Dois: baixar os juros é o clássico
remédio para desacelerações econômicas. O Banco Central aponta
para o inverso. Qual será a pressão
externa para que o Brasil gaste mais
e ajude os ricos?
Três: câmbio. A pressão está claramente centrada na China, cuja
moeda é muito desvalorizada, mas
há um certo clamor por um ajuste
cambial global que elimine ou reduza os evidentes desalinhamentos.
Se e quando houver essa mexida geral, o real sofrerá conseqüências
que ainda não estão à vista.
Vale (inclusive para o Brasil, pouco falado em Davos) o resumo do
debate de ontem sobre o panorama
econômico mundial, feito por Martin Wolf ("Financial Times"): "O tamanho da crise vai depender das
ações que forem adotadas".
Ação é o inverso exato de piloto
automático.
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