São Paulo, quarta-feira, 27 de fevereiro de 2002

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LUZ NO PÂNTANO

No formidável pântano em que mergulhou o Oriente Médio nos últimos 17 meses, surge enfim uma proposta capaz de sacudir o imobilismo e a lógica "matar e morrer" que vem se impondo entre israelenses e palestinos.
O autor da proposta é o príncipe saudita Abdullah Ibn Abdulaziz, governante de fato da Arábia Saudita. Sugere a devolução por Israel de todos os territórios tomados aos palestinos em troca de uma paz abrangente com todo o mundo árabe, o que implica naturalmente o reconhecimento do Estado judeu.
A novidade na proposta é a sua abrangência. Uma coisa é trocar territórios pela paz unicamente com os palestinos. Outra, teoricamente bem mais satisfatória para Israel, é devolver os territórios tendo como contrapartida a paz com todos os vizinhos e com os demais países árabes que não fazem fronteira com Israel.
É claro que a proposta demanda alguns esclarecimentos. O principal deles: o príncipe saudita fala também pelo Iraque de Saddam Hussein, o mais encarniçado inimigo do Estado judeu na região?
Fala pelo Irã, que, não sendo país árabe, é no entanto parte vital do complexo xadrez do Oriente Médio?
É razoável supor que tais dúvidas sejam desfeitas somente durante a cúpula árabe marcada para o fim do mês de março, em Beirute.
Até lá, compete especialmente a Israel criar as condições para que a idéia saudita não morra. Ela pode ter defeitos, mas é a única dos últimos muitos meses que, ao menos em tese, permite romper o ciclo de violência, atender aos legítimos anseios dos palestinos e, com isso, retirar oxigênio dos grupos extremistas que são responsáveis por parte da violência (outra parte é praticada pelas forças de segurança israelenses).
A alternativa é a perenização do conflito. A história já demonstrou que, nessa hipótese, os dois lados acabam perdendo.


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