São Paulo, quarta-feira, 27 de fevereiro de 2002

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CLÓVIS ROSSI

O impasse e a perplexidade

SÃO PAULO - Richard Lapper, editor de América Latina do jornal britânico "Financial Times", fez, na semana passada, um balanço da região. Conclusão básica:
"Desapontados com os resultados de duas décadas de reforma liberal, muitos cidadãos latino-americanos estão de novo abraçando políticas populistas e autoritárias".
A primeira parte (o desapontamento) é real. A segunda (a reação) é questão em aberto.
No caso do Brasil, o mais importante país da região, o principal candidato oposicionista, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), já disse que nem há dinheiro para reestatizar empresas privatizadas nem, se houvesse, seria um bom uso para ele.
Privatizações em larga escala foram as mais importantes (e emblemáticas) das reformas liberais.
O problema da América Latina, suspeito, é menos o de uma eventual recaída no populismo e no autoritarismo do que o da perplexidade ante a falta de respostas para a fadiga com as reformas liberais.
De parte dos liberais, como o texto do jornal britânico deixa claro, a resposta é mais reformas (privatizar o que falta e fazer as reformas chamadas de segunda geração, tais como tapar o buraco da Previdência Social e criar instituições que sejam capazes de regular a economia de mercado de maneira menos frouxa).
Esse caminho está bloqueado por falta de suporte político. A Argentina pode ser um caso extremo, mas não é exemplo isolado.
Na outra ponta, há textos produzidos pelo Fórum de Porto Alegre. Ao contrário da crítica convencional, idéias há, mas padecem de dois males: são fragmentadas demais para fornecer um guia de ação para qualquer governante e, no geral, demandam a criação de uma maioria política, não raro internacional, que não está no horizonte.
A eleição brasileira de 2002 iluminará caminhos ou apenas aumentará a perplexidade?


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