São Paulo, sexta-feira, 27 de fevereiro de 2004

Próximo Texto | Índice

REVER AS METAS

O Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) divulgou ontem a ata da sua reunião de fevereiro, na qual expõe os motivos que o levaram a manter, pelo segundo mês consecutivo, a taxa básica de juros em 16,5% ao ano. Em resumo, o documento afirma que o comportamento dos preços justifica temores de que o cumprimento da meta de inflação para este ano, de 5,5%, poderia se frustrar caso ocorresse agora novo corte de juros. A "probabilidade concreta" de a inflação se desviar da meta exigiria "cautela adicional" na política monetária.
Em relação à atividade econômica, o Copom considera que o cenário de recuperação permanece, embora os efeitos dos cortes da taxa de juros do ano passado não tenham se materializado por inteiro. Mesmo reconhecendo que a queda da renda do consumidor dificulta a retomada em alguns setores, a avaliação do BC é que a melhoria se dará "naturalmente, como conseqüência da disseminação gradual do crescimento do restante da economia". A ata descarta uma "flexibilização excessiva da política monetária" para impulsionar esses setores, considerando que isso geraria pressões inflacionárias.
É claro, portanto, que a ênfase do BC está no cumprimento estrito da meta de inflação, sem levar em conta a margem de tolerância, de 2,5 pontos percentuais. O Copom avalia que a manutenção dos juros trará menos danos para o crescimento do que uma redução da taxa traria para o cumprimento rigoroso da meta.
São muitas as dificuldades para o funcionamento do sistema de metas de inflação numa economia sujeita a instabilidades na taxa de câmbio que afetam quase imediatamente os preços. Não bastassem esses problemas, a administração desse modelo tem sido marcada por equívocos. Inclinado a ser mais realista do que o rei, o governo petista, obrigado pela crise a mudar as metas no início do ano passado, optou, ainda assim, por fixar objetivos ambiciosos para 2004 (5,5%) e 2005 (4,5%).
O país vê-se agora refém dessas opções, que são mantidas de forma inflexível. Já é hora de abrir o debate sobre a revisão da política de metas.


Próximo Texto: Editoriais: CASSINO NACIONAL
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.