São Paulo, sexta-feira, 27 de fevereiro de 2004

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CASSINO NACIONAL

Causa escalafrios a simples menção de que os bingos possam vir a ser estatizados. Seria um duplo retrocesso: o Estado voltaria a atuar como empresário -uma tarefa para a qual já se mostrou inteiramente desqualificado- e estaria explorando o vício em vez de desestimulá-lo, como seria de esperar de um ente que deveria estar comprometido com a saúde pública.
Argumentar, como o fazem os empresários do setor, que a atividade deve ser legalizada porque gera empregos beira a indigência intelectual. O tráfico de drogas e o roubo de cargas também criam postos de "trabalho", o que não justifica a criação de uma Narcobrás ou uma Embrafurto.
A única destinação aceitável para os bingos é a proscrição. A atividade é indesejada quer se a analise sob a perspectiva da saúde pública quer sob a ótica de sua vulnerabilidade às atividades do submundo.
A decisão do governo Luiz Inácio Lula da Silva de proibir o bingo e os caça-níqueis, embora correta, foi guiada pelo intuito de abafar o escândalo Waldomiro Diniz. Ainda assim, involuntariamente, colocou uma lente de aumento sobre a situação da jogatina no país. E o que se vê é uma realidade caótica, na qual alguns jogos são permitidos, outros vetados, outros admitidos e outros, ainda, explorados pelo próprio Estado.
Tome-se o exemplo do jogo do bicho: relegado ao limbo da contravenção, é praticado às claras. Se a idéia é impedir sua prática, não deveria ser "meio" proibido, mas criminalizado e combatido. Também merecem ser repensadas as loterias, que se multiplicam sob o anteparo de suas contribuições sociais, como o apoio ao esporte e o investimento em penitenciárias. Seriam essas finalidades as mais adequadas? O Estado precisaria organizar jogos para atendê-las?
Se o governo considera urgente enfrentar o bingo, que faça o mesmo com o jogo como um todo. O país não pode ficar à mercê da lógica casuística de uma administração que, acuada, defende-se atirando a esmo.


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