|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
MARIA CLARA GIANNA
Carnaval e DST
O exercício da sexualidade faz parte da vida, mas, sem os devidos cuidados, pode ter conseqüências indesejáveis e prejudiciais
|
Estamos em pleno Carnaval. A expectativa para a maior festa popular
nacional foi grande nos quatro cantos
do país. Para os milhões de brasileiros e,
particularmente, paulistas que ainda
vão entrar ou que já estão na folia, nunca é demais lembrar que a diversão requer cuidados. Exageros nunca são recomendáveis, especialmente quando o
que está em jogo é a saúde e a vida das
pessoas.
Sexo deve ser saudável e prazeroso,
não há dúvida. O exercício da sexualidade faz parte da vida, mas as conseqüências, quando os parceiros não tomam os
devidos cuidados, podem ser indesejáveis e prejudiciais à saúde.
Nunca é demais lembrar que a Aids,
apesar dos atuais tratamentos que garantem maior sobrevida aos pacientes,
não tem cura. O sexo displicente tem
um sem número de outras implicações
negativas, dentre as quais citamos a gravidez indesejada e, principalmente, a infecção pelos diversos tipos de doenças
sexualmente transmissíveis, as chamadas DSTs.
A OMS (Organização Mundial de
Saúde) estima que, no mundo, ocorram
cerca de 340 milhões de casos de DST
por ano. Os números nacionais são
igualmente preocupantes. Em 2003, segundo dados do Programa Nacional de
DST/Aids, o país somava 843,3 mil notificações de casos de sífilis e 775,1 mil de
gonorréia. No Estado de São Paulo, foram notificados, entre 1998 e 2005, 6,4
mil casos de sífilis em adultos, 1,5 mil de
herpes genital e 22.077 ocorrências de
Síndrome do Corrimento Cervical (gonorréia, clamídia). Acredita-se que o
número de casos seja ainda maior, já
que, com exceção da Aids, a notificação
das doenças sexualmente transmissíveis no Brasil não é obrigatória.
O poder público tem feito sua parte.
São Paulo, por exemplo, é pioneiro no
fornecimento do coquetel de drogas
contra Aids. Mais: mantém, por intermédio da Secretaria de Estado da Saúde,
alerta constante contra a doença, ampliando ações e orientações na época do
Carnaval. Mas a população pode e deve
contribuir.
É importante ressaltar, ainda, que o
sexo sem prevenção e o uso de drogas
injetáveis são fonte de transmissão das
hepatites B e C, doenças causadas por
vírus, na maioria dos casos silenciosas,
mas, se não diagnosticadas e tratadas a
tempo, podem levar a quadros graves,
como cirrose e câncer de fígado.
As DSTs são causadas por bactérias,
vírus, fungos, protozoários e parasitas e
transmitidas, principalmente, por contato sexual (genital, anal ou oral) sem o
uso de camisinha, por transfusões de
sangue ou compartilhamento de seringas e agulhas. Algumas dessas doenças
também podem ser transmitidas da
mãe infectada para o bebê durante a
gestação ou no momento do parto. Outras podem até causar a interrupção da
gravidez ou graves lesões ao feto. Daí a
necessidade do correto acompanhamento pré-natal das gestantes.
A maioria das DSTs é passível de fácil
e eficaz tratamento. Contudo, algumas
são bem complexas e podem persistir
ativas apesar da sensação inicial de melhora relatada pelos pacientes.
Todas as pessoas com vida sexual sem
uso de preservativo estão sujeitas a ser
infectadas, independentemente de sexo,
classe social, nível de escolaridade, idade ou número de parceiros. Portanto, a
prevenção por meio de camisinha é
item indispensável para aqueles que desejam sexo e, igualmente, querem ter segurança e garantia de saúde.
Quando se fala em prevenção, é importante lembrar que o consumo excessivo de bebida alcoólica ou o uso de drogas pode facilitar a exposição das pessoas às doenças sexualmente transmissíveis, pois, nesse caso, é maior a chance
de o preservativo ser esquecido "na hora H". O diálogo entre os parceiros é
fundamental, e o uso da camisinha, imprescindível.
A Secretaria de Estado da Saúde de
São Paulo, por intermédio do Centro de
Referência em DST/Aids, mantém um
serviço gratuito para tirar dúvidas e
orientar a população. Caso apareça algum sintoma de DST, é importante procurar o serviço de saúde mais próximo
ou ligar para 0800-16-25-50.
Maria Clara Gianna, 44, médica sanitarista, é
coordenadora do Programa Estadual de
DST/Aids, da Secretaria de Estado da Saúde de
São Paulo.
Texto Anterior: TENDÊNCIAS/DEBATES Ronaldo Rogério de Freitas Mourão: A origem lunar do Carnaval Próximo Texto: Painel do leitor Índice
|