São Paulo, segunda-feira, 27 de fevereiro de 2006

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MARIA CLARA GIANNA

Carnaval e DST



O exercício da sexualidade faz parte da vida, mas, sem os devidos cuidados, pode ter conseqüências indesejáveis e prejudiciais

Estamos em pleno Carnaval. A expectativa para a maior festa popular nacional foi grande nos quatro cantos do país. Para os milhões de brasileiros e, particularmente, paulistas que ainda vão entrar ou que já estão na folia, nunca é demais lembrar que a diversão requer cuidados. Exageros nunca são recomendáveis, especialmente quando o que está em jogo é a saúde e a vida das pessoas.
Sexo deve ser saudável e prazeroso, não há dúvida. O exercício da sexualidade faz parte da vida, mas as conseqüências, quando os parceiros não tomam os devidos cuidados, podem ser indesejáveis e prejudiciais à saúde.
Nunca é demais lembrar que a Aids, apesar dos atuais tratamentos que garantem maior sobrevida aos pacientes, não tem cura. O sexo displicente tem um sem número de outras implicações negativas, dentre as quais citamos a gravidez indesejada e, principalmente, a infecção pelos diversos tipos de doenças sexualmente transmissíveis, as chamadas DSTs.
A OMS (Organização Mundial de Saúde) estima que, no mundo, ocorram cerca de 340 milhões de casos de DST por ano. Os números nacionais são igualmente preocupantes. Em 2003, segundo dados do Programa Nacional de DST/Aids, o país somava 843,3 mil notificações de casos de sífilis e 775,1 mil de gonorréia. No Estado de São Paulo, foram notificados, entre 1998 e 2005, 6,4 mil casos de sífilis em adultos, 1,5 mil de herpes genital e 22.077 ocorrências de Síndrome do Corrimento Cervical (gonorréia, clamídia). Acredita-se que o número de casos seja ainda maior, já que, com exceção da Aids, a notificação das doenças sexualmente transmissíveis no Brasil não é obrigatória.
O poder público tem feito sua parte. São Paulo, por exemplo, é pioneiro no fornecimento do coquetel de drogas contra Aids. Mais: mantém, por intermédio da Secretaria de Estado da Saúde, alerta constante contra a doença, ampliando ações e orientações na época do Carnaval. Mas a população pode e deve contribuir.
É importante ressaltar, ainda, que o sexo sem prevenção e o uso de drogas injetáveis são fonte de transmissão das hepatites B e C, doenças causadas por vírus, na maioria dos casos silenciosas, mas, se não diagnosticadas e tratadas a tempo, podem levar a quadros graves, como cirrose e câncer de fígado.
As DSTs são causadas por bactérias, vírus, fungos, protozoários e parasitas e transmitidas, principalmente, por contato sexual (genital, anal ou oral) sem o uso de camisinha, por transfusões de sangue ou compartilhamento de seringas e agulhas. Algumas dessas doenças também podem ser transmitidas da mãe infectada para o bebê durante a gestação ou no momento do parto. Outras podem até causar a interrupção da gravidez ou graves lesões ao feto. Daí a necessidade do correto acompanhamento pré-natal das gestantes.
A maioria das DSTs é passível de fácil e eficaz tratamento. Contudo, algumas são bem complexas e podem persistir ativas apesar da sensação inicial de melhora relatada pelos pacientes.
Todas as pessoas com vida sexual sem uso de preservativo estão sujeitas a ser infectadas, independentemente de sexo, classe social, nível de escolaridade, idade ou número de parceiros. Portanto, a prevenção por meio de camisinha é item indispensável para aqueles que desejam sexo e, igualmente, querem ter segurança e garantia de saúde.
Quando se fala em prevenção, é importante lembrar que o consumo excessivo de bebida alcoólica ou o uso de drogas pode facilitar a exposição das pessoas às doenças sexualmente transmissíveis, pois, nesse caso, é maior a chance de o preservativo ser esquecido "na hora H". O diálogo entre os parceiros é fundamental, e o uso da camisinha, imprescindível.
A Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, por intermédio do Centro de Referência em DST/Aids, mantém um serviço gratuito para tirar dúvidas e orientar a população. Caso apareça algum sintoma de DST, é importante procurar o serviço de saúde mais próximo ou ligar para 0800-16-25-50.


Maria Clara Gianna, 44, médica sanitarista, é coordenadora do Programa Estadual de DST/Aids, da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo.


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