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A caravana prossegue
Loteamento do poder no governo Lula atiça interesses do PMDB sobre bilionário fundo de pensão de Furnas
BOA PARTE do PMDB, disse há algum tempo o senador Jarbas Vasconcelos, "quer mesmo é corrupção". O político pernambucano, ele próprio um peemedebista, ressalvou que o mesmo se dá
nos demais partidos.
Destaque de uma entrevista
recente à revista "Veja", a frase
produziu impacto até certo ponto desproporcional, uma vez que
não acrescentava nada de inédito às percepções correntes da
opinião pública.
Foi qualificada como um "desabafo" pela Executiva Nacional
do partido, que emitiu curiosa
nota oficial dizendo que não daria "maior atenção" ao episódio.
Saída resvaladia, sem dúvida, pela qual se responde que não há
nada a responder; seja como for,
vencida a passagem, a caravana
peemedebista seguiu em frente.
Não se extinguiram ainda os
ecos da entrevista, todavia, e eis
que surgem outras notícias do
trajeto do partido pelas paragens
do poder. O PMDB procura assumir o controle da Fundação Real
Grandeza, responsável pelo fundo de pensão dos funcionários da
Furnas Centrais Elétricas. Trata-se do quinto maior fundo previdenciário do serviço público
federal, com uma carteira de investimentos de R$ 6,3 bilhões.
O ministro das Minas e Energia, o peemedebista Edison Lobão, acusa a atual diretoria da
fundação de querer perpetuar-se
no poder. Suas declarações na última quarta-feira ultrapassaram
de longe em estridência as acusações, que tanta celeuma provocaram, de um Jarbas Vasconcelos. "Esse pessoal não quer perder a boca", disse Lobão ao jornal
"O Globo", referindo-se aos
atuais administradores do fundo. "O que eles querem fazer é
uma grande safadeza".
O ministro nega estar agindo
em benefício do seu partido. Todavia, no loteamento de cargos
empreendido pelo governo Lula,
Furnas foi entregue ao PMDB
fluminense, e pelo controle do
fundo de pensão entram em choque a direção da empresa e os
sindicatos dos funcionários.
Diante da movimentação de
protesto destes últimos, o presidente Lula decidiu adiar, "por
tempo indefinido", as mudanças
pretendidas por Edison Lobão.
Depois de declarações tão contundentes como as que fez anteontem, o ministro se vê obviamente desautorizado pela decisão presidencial.
De resto, mesmo na hipótese
de haver "safadeza" na atual gestão -ponto sobre o qual Lobão
não trouxe nada de específico-,
eis um problema que diz respeito, sobretudo, aos próprios funcionários de Furnas.
O Fundo Real Grandeza foi objeto, no passado, de gestão temerária, investigada pela CPI do
Mensalão. Seus recursos, segundo o relatório da CPI, ajudavam a
financiar o chamado "valerioduto". A diretoria responsável pelo
escândalo foi destituída em
2005. O precedente já bastaria
para repudiar-se nova ingerência partidária sobre a instituição.
Uma carteira bilionária foi
construída com recursos dos trabalhadores; ninguém concedeu
procuração ao PMDB e a seus
prepostos para geri-la. Muito
menos, vale dizer, em nome da
moralidade administrativa.
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