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TENDÊNCIAS/DEBATES
Energia limpa que os ventos podem trazer
IDELI SALVATTI
Mais do que um leilão ocasional, o país deve definir uma política permanente de exploração dos potenciais eólico e de biomassa
O MINISTRO de Minas e Energia, Edison Lobão, atendendo
a uma solicitação que lhe fiz,
comprometeu-se a prorrogar por um
período de no mínimo 15 dias o prazo
para a consulta pública sobre o leilão
de reserva de energia eólica. Isso
permitirá que a sociedade analise o
assunto por mais tempo e elabore críticas e sugestões com a profundidade
e a seriedade que o tema requer.
Fazer do limão uma limonada -essa é a oportunidade que se coloca para
o Brasil neste momento de crises que
se alimentam: a financeira, a energética e, principalmente, a climática.
No Brasil, a hidreletricidade é a base do sistema elétrico, com presença
superior a 85% da energia efetivamente gerada. Reforçando essa vocação, existe uma perfeita complementaridade entre as fontes hidráulica,
eólica e de biomassa. Os períodos
secos do ano produzem bons ventos
e são também as estações em que se
colhe a cana-de-açúcar, com grande
produção de biomassa.
Dessa forma,
pode-se consumir a energia alternativa e reduzir a demanda das usinas
hidrelétricas. O sistema poderá armazenar água e aumentar a reserva de
energia hidrelétrica sem ter de construir novos reservatórios.
Todas as fontes de energia geram
impactos positivos e negativos, sejam
eles ambientais, sejam sociais ou econômicos. Atualmente, somos o país
de maior potencial para a geração de
energia ambientalmente sustentável.
Estamos na região do planeta mais
bem servida em termos de ventos
adequados à geração de energia elétrica. Ventos de excelente qualidade
-velozes e constantes.
Entretanto, essa vantagem só vai se
realizar caso existam planejamento
adequado e políticas públicas que induzam ao desenvolvimento de tecnologias e à exploração desse potencial.
Todas as fontes energéticas, em sua
fase de desenvolvimento, necessitam
de incentivos governamentais para
sua consolidação e para alcançarem
competitividade.
Foi assim com o petróleo, na histórica campanha "O petróleo é nosso",
quando o governo brasileiro decidiu
criar a Petrobras, apesar das resistências. No caso da energia elétrica, houve dependência do poder público para
sua implantação e essa fonte só alcançou o desenvolvimento atual depois
da criação de grandes estatais, como a
Eletrobrás. O Estado brasileiro, por
meio do Proálcool, deu enormes incentivos para o desenvolvimento da
indústria do álcool combustível.
Está sendo assim neste início do século 21, quando o Brasil decidiu ampliar a participação do gás natural
em sua matriz energética e contou
com a Petrobras para subsidiar e consolidar o mercado de gás até que esse
combustível se mostrasse viável.
Da mesma forma, para consolidar a
realização de seu potencial em relação à geração de energias limpas, o
Brasil também precisará criar e ampliar suas iniciativas em políticas
públicas de incentivo ao desenvolvimento e ao aproveitamento das fontes alternativas.
Além da questão
energética, é importante destacar o
papel indutor de desenvolvimento
regional que a indústria de energias
renováveis pode desempenhar.
O principal potencial eólico, por
exemplo, encontra-se nas regiões Sul
e Nordeste. O aproveitamento da
energia eólica, portanto, será um importante fator de desenvolvimento
sustentável para essas regiões.
A geração eólica requer a produção
de equipamentos de alta tecnologia.
O Brasil pode aproveitar seu potencial e seus excelentes técnicos da área
aeroespacial a fim de atrair a indústria mundial desses equipamentos.
Para tanto, precisamos de política
industrial específica.
A possibilidade de assegurar impactos positivos no desenvolvimento
nacional da tecnologia é evidente,
tanto pelo efeito em cadeia sobre a
economia regional quanto em áreas
como educação. A instalação da nova
indústria poderá induzir a instalação
de escolas técnicas e superiores
com currículos próprios para a formação de técnicos e especialistas
nas tecnologias eólica, de biomassa e
de outras fontes renováveis.
Assim, além de garantir sua segurança energética, o Brasil estará agregando desenvolvimento regional e
contribuindo decisivamente para a
superação da crise climática. Mais do
que um leilão ocasional, o Brasil precisa definir uma política permanente
de aproveitamento de seus extraordinários potenciais eólico, de biomassa
e de outras fontes renováveis.
Está em nossas mãos utilizar nossa
cana-de-açúcar e nossos ventos para
transformar a crise em oportunidades de desenvolvimento regional, gerando empregos e reduzindo as emissões de gases do efeito estufa.
IDELI SALVATTI , 56, física, é senadora (PT-SC). Foi deputada estadual (95-98 e 99-2002) e líder da bancada do PT e
do bloco de apoio ao governo no Senado.
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