|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CARLOS HEITOR CONY
Pior para os fatos
RIO DE JANEIRO - Numa antiga mesa-redonda sobre futebol, ficou famosa a briga entre Nelson Rodrigues,
que torcia pelo Fluminense, e o Zé
Maria Scassa, que torcia pelo Flamengo. Os dois brigavam com direito
a tudo, inclusive a xingamento pessoal. Num dia de Fla x Flu que terminou com a vitória de um a zero para
o Fluminense, a torcida rubro-negra
sentiu-se roubada pelo juiz, pois o gol
tinha sido feito em clamoroso impedimento, o que todos viram, menos o
juiz e o Nelson.
No debate, a discussão azedou e, no
calor das injúrias, o mediador, que
era o Armando Nogueira, pediu licença para exibir o videoteipe, que
era então uma novidade. E o VT dava razão ao Scassa: o gol fora feito
naquilo que antigamente chamavam
de "banheira". Scassa cobrou: "E
agora, Nelson? O que achou do VT?".
Nelson não se apertou: "O VT é
burro! Pior para ele!".
Estou lembrando essa história porque li um depoimento do Miguel Arraes sobre as mortes de JK, de Jango e
de Lacerda numa comissão da Câmara dos Deputados cujo relator foi
o Miro Teixeira. Com aquele jeitão
de jagunço, Arraes, que estava exilado na Argélia por ocasião da morte
dos três, ouviu os laudos e os depoimentos tidos e havidos na comissão
que davam como acidente o caso de
JK e como natural o falecimento de
Jango e de Lacerda. Instado a dar a
sua opinião, Arraes relatou diversas
mensagens que recebera de diferentes
fontes internacionais avisando que
em breve seriam assassinados os
principais líderes políticos do Cone
Sul, entre os quais Allende, Letelier,
JK, Jango, Prats, Lacerda e outros (na
lista estaria Leonel Brizola, que, asilado pelo presidente Jimmy Carter
nos EUA, conseguiu escapar).
E Arraes concluiu o seu depoimento: "Tenho a certeza de que os três foram assassinados. Sim, os fatos não
provam isso. Pois pior para os fatos!".
Texto Anterior: Brasília - Eliane Cantanhêde: Um por todos, todos por um Próximo Texto: Vinicius Torres Freire: Sangue e areia nas manhas da história Índice
|