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RUY CASTRO
Deixadas no passado
RIO DE JANEIRO - Elas podem
ser vistas, dignas e lindonas, na plateia de colegas mais jovens, e você
imagina que estão ali na condição
de fãs desprendidas das novas gerações. Mas não é sempre assim. Mais
provável que estejam tentando
atrair a atenção de um produtor ou
de um agente que lhes dê trabalho
-o primeiro, talvez, em seis meses
ou um ano de silêncio profissional.
No Rio e em São Paulo, dezenas
de grandes cantoras do passado vivem hoje os piores momentos de
suas carreiras, esquecidas pela mídia e ignoradas pelos produtores.
As mais felizes, que conservaram
um apartamentinho próprio, estão
livres do aluguel, mas o condomínio
já tem um ou dois anos de atraso.
Muitas se seguram com uma aposentadoria que mal lhes paga a comida e os remédios. O plano de saúde, vitimado pela inadimplência, há
muito que foi para o espaço. Algumas estão vivendo de cestas básicas
doadas por amigos.
Não se trata de senhoras que, pela
idade, já estariam, se quisessem, no
Retiro dos Artistas, mas de mulheres vaidosas, ainda com a voz inteira, em perfeitas condições de trabalhar. Acontece de uma delas conseguir, de surpresa, uma noite num
clube ou teatro mais privilegiado e
não ter dinheiro para ajeitar o cabelo ou recauchutar o velho vestido.
Seus agentes alegam que esse tipo de oportunidade -aparições relâmpago em casas noturnas- é cada vez mais raro. As grandes casas
só querem saber de "projetos" ambiciosos, para interessar os suspeitos de sempre, os patrocinadores. E
estes, visando imprensa ou retorno,
só reconhecem os nomes de hoje, e
não se impressionam se Fulana ou
Beltrana foi uma estrela, digamos,
da bossa nova.
Sim, elas não são contemporâneas de Chiquinha Gonzaga, mas
cantoras que, até outro dia, estavam
construindo o futuro da música popular. O futuro chegou, e elas não
têm vez nele.
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