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São Paulo, domingo, 27 de abril de 2003

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CLÓVIS ROSSI

A hora do "pró-sociedade"

BUENOS AIRES - Está no ar a nova palavra de ordem da década: equilíbrio fiscal, sim, estabilidade da moeda, também sim, mas equilíbrio social igualmente.
Essa é a idéia que permeia o novo "Consenso de Washington", conforme já tratado neste espaço a partir do livro que faz uma revisão do velho Consenso e a ele acrescenta a necessidade de tratar do social não como um mero "sopão" para os pobres mas como fator indispensável para o desenvolvimento sustentável.
Aqui na Argentina, um dos centros de estudo que se encantou com o chamado neoliberalismo, a Fundação Capital, agora revê conceitos e afirma, em documento da semana que terminou: "A situação vigente requer políticas não apenas pró-mercado mas também pró-sociedade".
O ministro brasileiro da Fazenda, Antonio Palocci, vem dizendo mais ou menos a mesma coisa, ainda que se sinta constrangido, por medo dos tais mercados, a pôr a ênfase (e a ação, por ora) mais no "pró- mercado" do que no "pró-sociedade".
O leitor dirá que essas coisas são óbvias e que afirmá-las agora com pompa e circunstância equivale a redescobrir a pólvora. É verdade mas é igualmente verdade que, nos anos 90, a ideologia dominante tinha obsessão apenas com os mercados.
Se o novo discurso irá ou não além da retórica, é questão aberta. Ser pró-mercado é mais fácil, porque é nele que está o dinheiro e, por extensão, o poder. Ser pró-sociedade é complicado, primeiro porque os interesses são multifacéticos e, segundo, porque atender aos mais necessitados em geral vai significar enfrentar os mais poderosos.
No Brasil, até agora, o PT não deu a mais leve demonstração de que pretende fazê-lo. Na Argentina, que teve o governo mais "pró-mercado" dos 90 na região, só a partir da eleição de hoje se terá uma primeira noção de quanto o "pró-sociedade" vai ou não aparecer no futuro próximo.
São os dois países que marcam a moda na região.


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