UOL




São Paulo, domingo, 27 de abril de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ELIANE CANTANHÊDE

A esquerda é uma festa!

BRASÍLIA - Nacionalismo a la anos 60, estatização e corporativismo. Essas questões ideológicas, que pareciam ter chegado a um razoável consenso depois de décadas, estão de volta com tudo no governo Lula.
Com praticamente todas as correntes de esquerda no poder, aguçam-se as velhas divergências: "Nós temos diferenças, sim, e cada vez mais acentuadas", admitiu o ministro Roberto Amaral (Ciência e Tecnologia), em entrevista à Folha. Um dos ideólogos do PSB, está muito mais próximo do discurso estatizante e corporativista de Brizola, do PDT, do que do novo PT que assumiu o governo.
PSB, PDT e PC do B parecem estar de um lado, e o comando do PT e do governo, de outro, junto com os reformistas PPS e PSDB. PPS está na situação, e PSDB, na oposição. Mas eles falam a mesma língua!
Nessa salada, a cúpula do PT fala uma coisa, e a base, outra. O PSB e o PDT governistas, uma, e o PSB de Garotinho e o PDT de Brizola, outra. A esquerda é mesmo festiva. Juntando-se o PSDB, de centro-esquerda, tudo é uma festa.
O debate ideológico se materializa no ministério de Amaral, que entrou para acomodar o seu PSB e vem incomodando todo o resto. E é uma área sempre estratégica, particularmente num governo angustiado entre o desenvolvimento e uma política financeira baseada em juros estratosféricos. Como pensar em desenvolvimento industrial sem um forte apoio de ciência e tecnologia?
Amaral parece querer passar uma borracha em tudo o que foi feito no governo FHC e começar do zero. Temerário. Muita coisa foi feita, houve avanços e só são necessários ajustes. Mas Amaral apela para a ideologia: "Nós ganhamos a eleição, mas o conservadorismo social-democrata está ganhando o debate ideológico".
Sua área se comporta como o bastião do velho nacionalismo e do refluxo na desestatização e na descentralização. Mas o pior nem é isso: é que a ordem veio "de cima". O discurso de Lula está mais moderno, mas a alma continua a de sempre?


Texto Anterior: Buenos Aires - Clóvis Rossi: A hora do "pró-sociedade"
Próximo Texto: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: Revendo a nota
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.