![]() São Paulo, terça-feira, 27 de abril de 2004 |
![]() |
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
TENDÊNCIAS/DEBATES Pervertidos e cruéis
JORGE BOAVENTURA
E é aí que sobreleva a importância do famoso art. 6º. O que diz ele? "A lei é a expressão da vontade geral, manifestada diretamente ou por intermédio de representantes." E mais adiante: "Ninguém será obrigado a fazer ou a deixar de fazer alguma coisa, a não ser em virtude de lei". A nobre aparência do que acabamos de registrar permitiu a sua inserção como característica básica da depravação do ideal democrático, que vêm tentando impor ao mundo a qualquer custo e a qualquer preço. E poucos, pouquíssimos, dão-se conta de que aquelas palavras, aparentemente tão nobres, desvincularam o processo da civilização ocidental de sua fonte cultural, inquestionavelmente consistente nas sagradas escrituras, o Antigo e o Novo Testamento, eis que as raízes da nossa civilização são judaico-cristãs, e tudo passou a depender da opinião de maiorias volúveis, cuja composição e produto de elaboração passaram a depender dos que dispõem dos meios eficazes para, atuando sobre o emocional das massas, tangê-las para as urnas. Tudo, de resto, no particular, baseado em outro erro crasso, consistente em supor que maiorias são fontes necessárias de verdade -o que ninguém realmente sério pode levar a sério. E os verdadeiros senhores do mal vêm ultrapassando todos os limites, produzindo a consagração de outros erros crassos, que o espaço de que dispomos não nos permite arrolar. Daremos, porém, alguns poucos exemplos, para evidenciar o grau de demoníaca perversão dos verdadeiros senhores do mal, que se auto-insinuam defensores do ideal democrático, que diariamente conspurcam e maculam. Sabe o leitor a quanto monta, hoje, o mercado internacional de armas, inteiramente dominado por aqueles senhores? A algo que se aproxima de US$ 1 trilhão e cujos produtos obsoletos são vendidos aos países emergentes ou periféricos e, no caso da África Subsaariana, para alimentar as guerras que já produziram muitos milhões de mortos, travadas sem que nenhum dos litigantes produza as armas com que se estão matando. Angola tem uma enorme parcela de sua população constituída por mutilados em conseqüência de minas terrestres que não foram produzidas ali. E sabem os leitores quem faz a lavagem das centenas e centenas de bilhões de dólares movimentados pelo crime organizado? São os bancos e corporações financeiras, cujos acionistas e dirigentes compõem as sociedades "democráticas" do Primeiro Mundo. Onde estará, assim, o "eixo do mal"? Nos senhores Osama bin Laden e seus asseclas? Algum tempo depois do fim da Segunda Guerra Mundial, tive a oportunidade de visitar a Alemanha Ocidental, a convite do seu governo. Em Hamburgo, fui levado por cicerone para visitar o bairro boêmio da "Paris do Norte", ver alguns frutos da "liberdade" que havia sido restaurada. Entre eles, os grandes anúncios de espetáculo oferecido -com promessa de devolução do dinheiro ao cliente que não se satisfizesse-, que era nada mais, nada menos do que o de mulheres sendo copuladas por cães. Vilipêndio da espécie humana, tornado possível por todas as razões que o leitor pode perceber. É um horror, mas é a verdade. E expô-la é o dever fundamental imposto pelo respeito ao público, devido pelos que têm o privilégio de se comunicar com ele. Jorge Boaventura, 80, ensaísta e escritor, é conselheiro do Comando da Escola Superior de Guerra. Texto Anterior: TENDÊNCIAS/DEBATES André Franco Montoro Filho: LPM é continuidade de FHM? Próximo Texto: Painel do leitor Índice |
|