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CLÓVIS ROSSI
O Brasil cabe na sua dívida?
SÃO PAULO - A princípio, a manchete de ontem do caderno Cotidiano
desta Folha seria auto-explicativa:
"País tem repetência maior que a do
Camboja". Nem o genocídio de Pol
Pot conseguiu transformar o Camboja em país pior que o Brasil. E atenção: nesse capítulo, o governo Lula
não tem culpa, porque o levantamento da Unesco usa dados de 2002, portanto o último do tucanato.
Constatado o desastre, passemos ao
ponto seguinte: a Unesco diz, no mesmo estudo, que o Brasil precisará
contratar pouco mais de 396 mil professores até 2015, um aumento de
50% em relação ao quadro atual.
Pergunta inevitável: de onde virá o
dinheiro para tais contratações (sem
mencionar o fato de que é preciso
também aumentar o salário dos professores, atuais e futuros)?
Voltemos então à página A2 da
mesmíssima Folha de ontem: nela, o
deputado Delfim Netto vocaliza o temor dos mercados de que o governo
não consiga cumprir a meta de poupar o equivalente a 4,25% do PIB para pagar os juros da dívida.
Bom, se com uma economia já colossal, quase obscena em um país
com tantos problemas (lembre-se,
educação é apenas um deles), o mercado ainda está insatisfeito, o que
acontecerá se e quando o governo resolver gastar mais para contratar
professores (de novo sem falar no necessário aumento)?
O governo será fuzilado, qualquer
que seja o presidente. Sempre é bom
lembrar que só os mercados têm hoje
condições de desestabilizar governos
-pelo menos no Brasil, em que as
ruas, outro fator potencial de ruídos,
estão caladas, quase mortas.
Ligando os pontos, tem-se o seguinte: ou se continua a fazer o Brasil caber no tamanho de sua dívida, cortando-lhe asas, pernas e o oxigênio
representado pela educação, ou se
adapta a divida ao tamanho que se
quer para o país.
Simples de expor, difícil de fazer.
Tão difícil que nem remotamente
aparece no pobre debate eleitoral.
@ - crossi@uol.com.br
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