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CARLOS HEITOR CONY
Sodoma e Gomorra
RIO DE JANEIRO - É médico de profissão e estatístico por conta própria e
prazer. A profissão levou ao prazer.
De tanto pesquisar as taxas de sobrevivência de um enfartado de 50 anos,
de quantos aidéticos podem morrer
de pneumonia, ele passou para estudos aparentemente inúteis, como
quantas voltas tem um parafuso.
Domingo passado, jantando com
ele, puxou um papelzinho do bolso e
me informou que os jornais e revistas
do fim de semana tinham 83% de
matérias, comentários e entrevistas
sobre os diversos tipos de corrupção
na vida pública nacional e na vida
privada de diversas entidades, instituições e gente comum de nosso cenário cotidiano.
Sobrou pouca, pouquíssima coisa
para a morte de Telê, os rumos gloriosos de Chico Buarque, resenhas de
filmes, moda, discos, livros e conselhos de saúde e culinária. Durante
anos, as diversas mídias do mercado
achavam que sexo vendia tudo. Velada ou ostensivamente, era o carro-chefe das edições.
Substituíram o sexo por saúde, perda de peso, dores da coluna, câncer
de mama etc. Finalmente, chegamos
ao estágio atual: quem roubou o que
e quanto. Os deputados federais gastam gasolina suficiente para ir e voltar à Lua 64 vezes. Um repórter investigativo descobriu que um funcionário não sei de onde fez cinco operações do mesmo apêndice e com isso
descolou licenças para tratamento de
saúde e um empréstimo junto à caixa
de assistência de mútua -empréstimo que até hoje não pagou, embora
ele esteja providenciando a operação
de seu sexto apêndice.
Assuntos palpitantes. A atualidade
é importante, mas, volta e meia, provam as estatísticas, busca-se no passado os apêndices indevidamente
operados, os laudos disso e daquilo
desmentidos pelos fatos. Somando
tudo, tem-se a impressão de que nada e ninguém escapam. Sodoma e
Gomorra foram riscadas do mapa
por outros motivos, mas a esbórnia
continua geral.
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