São Paulo, quinta-feira, 27 de maio de 2004

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PAINEL DO LEITOR

Saúde
"Confesso que fiquei confusa com a declaração do senhor Edmund Baracat, presidente da Febrasgo, federação de sociedades de ginecologia e obstetrícia, na reportagem "Federação quer obstetras nos estabelecimentos" (Cotidiano, 25/5). Quando ele afirma que as casas de parto não são necessárias nos grandes centros, mas em lugares onde não há recursos nem instalações -"é lá que as enfermeiras obstetras teriam papel fundamental, evitando que as gestantes dessem à luz sem nenhuma atenção'-, significa que a opinião do médico é a de que as enfermeiras obstetras são tão poderosas que são fundamentais onde não existem condições para atuação? Se assim for, por que não investir na presença dessas profissionais em todo lugar? Ou a questão seria outra? Algo como "deixem os grandes centros para os médicos e vão para onde nenhum médico quer ir'?"
Mônica F.Santos Andrade (Louveira, SP)

Cotas
"O caderno Cotidiano informou que a UnB rejeitou 212 alunos no programa de cotas ("UnB veta 4,8% dos que concorreram às vagas do programa de cota racial", 26/5). A considerar a foto publicada, rejeitou pouco. Dos quatro alunos que aparecem, somente o rapaz é pardo, as três mulheres são brancas. Duas delas poderiam até ser consideradas loiras (como a Carla Perez) se tivessem um bom cabeleireiro. Não é muito mais lógico que as cotas fiquem na dependência de um histórico escolar de escola pública, e não de uma seleção de cor para lá de duvidosa?"
Sandra Melo Gomes Moraes (Sorocaba, SP)

 

"Vejo que a maioria dos leitores que escrevem para jornais se manifesta contra as cotas nas universidades públicas para egressos da escola pública, dizendo que os "cotistas" rebaixarão o nível acadêmico dessas instituições. Sem discutir o que sente uma pessoa pobre -que certamente estuda em escola pública- quando vê a mídia dizer que, se ele entrar numa universidade irá "rebaixar" o nível desta, acho que esse argumento vil só se sustenta porque os primeiros resultados do sistema de cotas nas universidades têm sido ocultados pela mídia. A Uerj, primeira grande universidade do país a adotar as cotas, possui dados sobre 2003, primeiro ano de vigência do sistema, que provam que não causaram nenhum prejuízo acadêmico à instituição. Entretanto a opinião pública continua desinformada sobre esse fato."
Eduardo Guimarães (São Paulo, SP)

Brasil e China
"Se o presidente Lula, quando visita o presidente Bush, não questiona a legitimidade da invasão estadunidense no Iraque nem as agressões cometidas por seu governo contra os prisioneiros em Guantánamo, por que haveria de levantar questões sobre direitos humanos na China?"
Maurício Saraiva de Campos (São Paulo, SP)

Fundamentalismo cientificista
"A série jornalística sobre a homeopatia na Rede Globo terminou. Tivemos de suportar o clima caricaturesco do programa até que, no domingo passado, foi anunciado o previsível veredicto: a homeopatia falhara no teste proposto pela BBC. A redação final informa que não se pode falar que funciona nem que não funciona. Se funciona, não é pelo que se supõe que seja. Como legado, fica a mensagem de que tudo que não tem uma explicação cabalmente demonstrável pelo monopólio metodológico não pode ser possível por nenhuma outra metodologia, ou seja, tudo o que não pode ser explicado não pode acontecer. Milhões de pessoas tratam-se pelo método homeopático no Brasil -e 21% da população européia também. A série, devido à superficialidade, introduziu mais preconceitos do que informações, mais ceticismo do que esclarecimento. O pior foi ter revelado que há, de fato, um fundamentalismo cientificista -tão obtuso quanto seus correlatos políticos ou religiosos-, que opera na base do "acredito ou não acredito", "gosto ou detesto", típico de uma crença monológica que caracteriza a velha ciência. A boa notícia é que há uma nova ordem cientifica que deseja a pluralidade de métodos. Nela, o novo e o aparentemente inexplicável podem ser investigados à luz da complexidade."
Paulo Rosenbaum, médico especialista em homeopatia, mestre em medicina preventiva (São Paulo, SP)

Avaliação educacional
"Diante de anúncio publicado nesta Folha no dia 19/5 (Brasil, pág. A5), em que uma instituição de ensino superior faz propaganda de curso de mestrado dizendo que é "recomendado pela Capes", venho esclarecer que esta agência do governo federal avalia todos os cursos de mestrado "strictu sensu" (com dissertação final) e de doutorado do país, atribuindo-lhes notas que vão de 1 a 7. Os cursos com nota 1 e 2 não têm validade nacional para seus diplomas. São reconhecidos os diplomas dos cursos de nota 3 a 7 -sendo 7 a nota máxima. A Capes não faz propaganda de cursos e recomenda ao interessado em cursar qualquer pós-graduação que, antes de se inscrever nela, entre em nosso site (www.capes.gov.br), escolha a opção "avaliação" e depois "mestrados e doutorados reconhecidos" (ou "novos') para saber quais são os cursos mais bem avaliados na área de seu interesse e na região geográfica em que pretende estudar. Assim, evitará eventuais dissabores."
Renato Janine Ribeiro, diretor de avaliação da Capes (Brasília, DF)

Governo Lula
"Com uma argúcia vulpina, Roberto Mangabeira Unger ("A centelha", 25/5) retratou com precisão cirúrgica o atual governo brasileiro: "um grupelho instalado no centro do Estado, com o beneplácito de um presidente refugiado em fantasias, forja síntese de fisiologismo, dirigismo e hegemonismo. Nada que aconteceu até agora em nossa história republicana iguala a desfaçatez com que essa camarilha insiste em tudo comandar do Palácio (...)"."
Conrado de Paulo (Bragança Paulista, SP)

Morte de bebês
"A repetição de mortes de bebês em maternidades públicas de Pernambuco, de São Paulo e agora do Rio de Janeiro, sem contar as ocorridas em outros inúmeros Estados, é um escândalo que já virou rotina. Será que as autoridades públicas pensam que existem bebês de segunda classe? A sociedade pergunta: esses bebês teriam sido contaminados se estivessem na maternidade do Hospital Albert Einstein ou na do Sírio-Libanês?"
José Eduardo Bandeira de Mello (São Paulo, SP)

PSDB
"Ao contrário do que afirma o sr. Ary Braga Pacheco Filho ("Painel do Leitor", 24/5), se há algum partido que tem autoridade moral para falar de qualquer outro, esse é o PSDB. Autoridade que foi obtida com ações, e não com palavras. Apesar de governar num período de profundas transformações no cenário mundial, de ter enfrentado ciclicamente crises externas, os oito anos do PSDB legaram ao país uma moeda estável, uma Lei de Responsabilidade Fiscal, as privatizações -que possibilitaram um brutal investimento em setores como telefonia e siderurgia e de quebra diminuíram o assalto aos cofres públicos-, os genéricos, o melhor programa do mundo de combate à Aids, o acesso ao ensino básico para 95% das crianças, o reerguimento econômico do Estado de São Paulo, o saneamento do sistema financeiro com o Proer e a consolidação da democracia com a transição conduzida com autoridade e serenidade por FHC."
Persio Bosquetti Júnior (Santos, SP)


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