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OMISSÃO E OPORTUNISMO
Há pelo menos dois aspectos a considerar a respeito da informação divulgada por esta Folha sobre os saques registrados no Nordeste, mostrando que o MST (Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra)
não teve participação em 80% deles.
Primeiro aspecto: o fato de a maioria dos saques não ter tido envolvimento do MST, pelo menos segundo
relatórios sigilosos da Polícia Federal, não absolve completamente o
movimento, mas atenua suas culpas.
Embora continue sendo condenável
estimular o crime -e saque é crime-, o fato é que o MST não pode
ser acusado de responsável principal
pelo que tem ocorrido no Nordeste.
Pode, sim, ser acusado de tentar
multiplicar o impacto de atos do gênero, ao promover, por exemplo, a
invasão de agências bancárias no Paraná, um Estado muito distante do
epicentro da crise do momento.
Mas o fato de o MST incentivar tais
ações não isenta o governo de sua
parcela de responsabilidade nos episódios. Se a maioria dos saques, como indica o relatório da própria Polícia Federal, teve a fome como combustível básico, parece evidente que,
se o governo tivesse sido mais ágil
em ações preventivas, o problema teria sido pelo menos atenuado.
Vale lembrar que outro relatório, da
Secretaria de Inteligência, revelado
há duas semanas pelo general Alberto Cardoso, chefe da Casa Militar, indica que o governo federal estava informado desde setembro de 97 da
gravidade do problema.
A omissão governamental acabou
por criar uma situação de desespero,
o que, de resto, está retratado na reportagem de Elio Gaspari também
divulgada ontem pela Folha. O desespero, sabidamente, fornece o caldo de cultura ideal para ações à margem da lei, como os saques, que, por
sua vez, o MST, e também a CUT,
vêm tratando de instrumentalizar
politicamente. Entre a omissão do
governo e o oportunismo do MST, a
população fica deserdada, refém das
consequências de uma e de outro. O
que só pode causar apreensão.
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