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OS POLICIAIS E A CRISE SOCIAL
Entre 96 e abril deste ano, policiais
militares mataram 941 pessoas, e
não 623, como constava oficialmente. O sumiço de 318 -ou 51%- dos
cadáveres das estatísticas é um fato
muito grave, como aliás reconhece o
próprio governo paulista, que, registre-se, agora se mostra empenhado
em reparar o erro. Porém, ainda mais
grave talvez sejam as circunstâncias
dessas mortes. Referem-se, em primeiro lugar, a crimes praticados por
PMs em folga; em segundo, ao que a
Corregedoria da PM qualifica como
"homicídio", isto é, quando não há
resistência das vítimas -é muito
provável que se esteja falando, nesses
casos, de execuções.
O número de policiais que puxam o
gatilho em folga é assustador. Só em
97, PMs fora de serviço mataram 120
pessoas. Dessas mortes, mais da metade, 62, foram consideradas "homicídios", ou seja, não teria havido nenhuma resistência das vítimas.
Esses dados sugerem, em primeiro
lugar, que muitos PMs agem ou como criminosos comuns ou fazendo
bicos como guardas particulares, o
que é proibido; em segundo, que a
Secretaria da Segurança Pública não
tem exercido o controle necessário
sobre a conduta de seus subordinados, sobretudo quando em folga.
Não se deve, no entanto, minimizar
os esforços do governo Mário Covas
para tornar as ações da polícia paulista mais transparentes. Tais esforços estão em parte materializados na
criação da Ouvidoria da Polícia, cuja
atuação independente vem se constituindo num canal precioso para a democratização dessa corporação.
Também tem razão o comandante-geral da PM, coronel Carlos Alberto de Camargo, quando insiste em
inserir tanto a escalada da criminalidade como o aumento da violência
policial no contexto da crise social
que afeta particularmente São Paulo.
Mas, se a deterioração social dificulta a ação da polícia, o governo, em
mais de três anos, não reagiu à altura
do que se esperava. Foi titubeante e
tímido para enfrentar os vícios da
corporação e a escalada do crime.
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