São Paulo, quarta, 27 de maio de 1998

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OS POLICIAIS E A CRISE SOCIAL

Entre 96 e abril deste ano, policiais militares mataram 941 pessoas, e não 623, como constava oficialmente. O sumiço de 318 -ou 51%- dos cadáveres das estatísticas é um fato muito grave, como aliás reconhece o próprio governo paulista, que, registre-se, agora se mostra empenhado em reparar o erro. Porém, ainda mais grave talvez sejam as circunstâncias dessas mortes. Referem-se, em primeiro lugar, a crimes praticados por PMs em folga; em segundo, ao que a Corregedoria da PM qualifica como "homicídio", isto é, quando não há resistência das vítimas -é muito provável que se esteja falando, nesses casos, de execuções.
O número de policiais que puxam o gatilho em folga é assustador. Só em 97, PMs fora de serviço mataram 120 pessoas. Dessas mortes, mais da metade, 62, foram consideradas "homicídios", ou seja, não teria havido nenhuma resistência das vítimas.
Esses dados sugerem, em primeiro lugar, que muitos PMs agem ou como criminosos comuns ou fazendo bicos como guardas particulares, o que é proibido; em segundo, que a Secretaria da Segurança Pública não tem exercido o controle necessário sobre a conduta de seus subordinados, sobretudo quando em folga.
Não se deve, no entanto, minimizar os esforços do governo Mário Covas para tornar as ações da polícia paulista mais transparentes. Tais esforços estão em parte materializados na criação da Ouvidoria da Polícia, cuja atuação independente vem se constituindo num canal precioso para a democratização dessa corporação.
Também tem razão o comandante-geral da PM, coronel Carlos Alberto de Camargo, quando insiste em inserir tanto a escalada da criminalidade como o aumento da violência policial no contexto da crise social que afeta particularmente São Paulo.
Mas, se a deterioração social dificulta a ação da polícia, o governo, em mais de três anos, não reagiu à altura do que se esperava. Foi titubeante e tímido para enfrentar os vícios da corporação e a escalada do crime.



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