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São Paulo, sexta-feira, 27 de junho de 2003

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SAINDO DA UTI

Ao declarar que o Brasil saiu da UTI, o ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, formaliza a avaliação da equipe econômica de que a fase mais aguda de combate à inflação foi superada. Com os índices de preços em nítida rota de queda, a agenda do governo, segundo Palocci, volta-se para o crescimento.
São declarações auspiciosas. Para que se verifique, porém, a passagem do aperto monetário e da retração da atividade econômica para um período de expansão será preciso mais do que palavras. O quadro de restrições criado pela política de juros elevados ainda está em curso. O desemprego segue em alta, e a expectativa é que o PIB do segundo trimestre registrará, mais uma vez, retração. Respostas da economia a medidas de política monetária não são instantâneas, o que recomendaria decisões menos conservadoras do Banco Central nas próximas reuniões do Copom.
Além disso, há sinais que merecem atenção em outras áreas -caso das contas externas. Ainda que os saldos comerciais venham sendo volumosos, o pagamento de juros pelo governo deverá gerar, no ano, um déficit de cerca de US$ 4 bilhões, segundo o BC. Em maio, repetindo abril, o investimento direto estrangeiro foi negativo. Considerando que o câmbio se encontra em posição menos favorável às exportações e que o aquecimento da atividade deverá reduzir o saldo comercial, as preocupações com a vulnerabilidade externa devem ser redobradas.
O país tem vivido nos últimos anos uma rotina perversa. Promovem-se restrições com vistas a demonstrar ao "mercado" a capacidade de pagar a dívida e controlar a inflação. Com isso, busca-se atingir um ponto ideal a partir do qual seja possível crescer. Quando tal ponto, contudo, parece aproximar-se, basta uma crise externa para que a "perda de confiança" ocasione movimentos bruscos de capitais, disparada do câmbio e inflação. Para responder a essa situação, as autoridades econômicas elevam juros, aumentam o aperto fiscal, procuram fechar acordos com o FMI e renovam as promessas de que o momento do crescimento chegará. É exatamente neste ponto onde, novamente, nos encontramos. Se não quiser correr o risco futuro de um inesperado retorno à UTI, a nova equipe precisará concentrar esforços e agir com coragem para equacionar definitivamente a questão externa.


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