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SAINDO DA UTI
Ao declarar que o Brasil saiu
da UTI, o ministro da Fazenda,
Antonio Palocci Filho, formaliza a
avaliação da equipe econômica de
que a fase mais aguda de combate à
inflação foi superada. Com os índices de preços em nítida rota de queda, a agenda do governo, segundo
Palocci, volta-se para o crescimento.
São declarações auspiciosas. Para
que se verifique, porém, a passagem
do aperto monetário e da retração da
atividade econômica para um período de expansão será preciso mais do
que palavras. O quadro de restrições
criado pela política de juros elevados
ainda está em curso. O desemprego
segue em alta, e a expectativa é que o
PIB do segundo trimestre registrará,
mais uma vez, retração. Respostas
da economia a medidas de política
monetária não são instantâneas, o
que recomendaria decisões menos
conservadoras do Banco Central nas
próximas reuniões do Copom.
Além disso, há sinais que merecem
atenção em outras áreas -caso das
contas externas. Ainda que os saldos
comerciais venham sendo volumosos, o pagamento de juros pelo governo deverá gerar, no ano, um déficit de cerca de US$ 4 bilhões, segundo o BC. Em maio, repetindo abril, o
investimento direto estrangeiro foi
negativo. Considerando que o câmbio se encontra em posição menos
favorável às exportações e que o
aquecimento da atividade deverá reduzir o saldo comercial, as preocupações com a vulnerabilidade externa devem ser redobradas.
O país tem vivido nos últimos anos
uma rotina perversa. Promovem-se
restrições com vistas a demonstrar
ao "mercado" a capacidade de pagar
a dívida e controlar a inflação. Com
isso, busca-se atingir um ponto ideal
a partir do qual seja possível crescer.
Quando tal ponto, contudo, parece
aproximar-se, basta uma crise externa para que a "perda de confiança"
ocasione movimentos bruscos de capitais, disparada do câmbio e inflação. Para responder a essa situação,
as autoridades econômicas elevam
juros, aumentam o aperto fiscal, procuram fechar acordos com o FMI e
renovam as promessas de que o momento do crescimento chegará. É
exatamente neste ponto onde, novamente, nos encontramos. Se não
quiser correr o risco futuro de um
inesperado retorno à UTI, a nova
equipe precisará concentrar esforços
e agir com coragem para equacionar
definitivamente a questão externa.
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