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DESCULPAS DO PRESIDENTE
Merece registro a presteza
com que o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva veio desculpar-se
pelo discurso proferido na Confederação Nacional da Indústria, na última terça-feira. Na ocasião, o presidente gerou mal-estar ao declarar
que "não tem chuva, não tem geada,
não tem terremoto, não tem cara
feia, não tem um Congresso Nacional, não tem um Poder Judiciário
-só Deus será capaz de impedir que
a gente faça esse país ocupar o lugar
de destaque que ele nunca deveria ter
deixado de ocupar".
O claro desafio aos poderes que a
sentença encerra, é, de fato, preocupante. Mais ainda por se tratar de um
líder com características carismáticas e grande capacidade de comunicação direta com a sociedade. A história política latino-americana é
abundante em exemplos de lideranças que exercem o poder sobrepondo-se às instituições, valendo-se, para isso, de um personalismo populista e autoritário. Tais exemplos, à esquerda ou à direita do espectro ideológico, encarnam as históricas dificuldades do continente de consolidar a democracia.
No Brasil, apesar de casos como o
do ex-presidente Fernando Collor de
Mello, que pretendeu governar sem o
necessário enraizamento institucional, os sinais recentes de amadurecimento do sistema democrático são
bastante positivos. Certos conflitos
entre os poderes podem fazer parte
da democracia. Diferente, convenhamos, é o titular do Executivo apresentar-se ao país messianicamente,
como um poder predestinado, que
só a Deus teria contas a prestar.
As desculpas presidenciais devem
ser aceitas. Fica, contudo, a sensação
de que se presenciou um inquietante
e simbólico avanço de sinal.
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