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São Paulo, sexta-feira, 27 de junho de 2003

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DESCULPAS DO PRESIDENTE

Merece registro a presteza com que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva veio desculpar-se pelo discurso proferido na Confederação Nacional da Indústria, na última terça-feira. Na ocasião, o presidente gerou mal-estar ao declarar que "não tem chuva, não tem geada, não tem terremoto, não tem cara feia, não tem um Congresso Nacional, não tem um Poder Judiciário -só Deus será capaz de impedir que a gente faça esse país ocupar o lugar de destaque que ele nunca deveria ter deixado de ocupar".
O claro desafio aos poderes que a sentença encerra, é, de fato, preocupante. Mais ainda por se tratar de um líder com características carismáticas e grande capacidade de comunicação direta com a sociedade. A história política latino-americana é abundante em exemplos de lideranças que exercem o poder sobrepondo-se às instituições, valendo-se, para isso, de um personalismo populista e autoritário. Tais exemplos, à esquerda ou à direita do espectro ideológico, encarnam as históricas dificuldades do continente de consolidar a democracia.
No Brasil, apesar de casos como o do ex-presidente Fernando Collor de Mello, que pretendeu governar sem o necessário enraizamento institucional, os sinais recentes de amadurecimento do sistema democrático são bastante positivos. Certos conflitos entre os poderes podem fazer parte da democracia. Diferente, convenhamos, é o titular do Executivo apresentar-se ao país messianicamente, como um poder predestinado, que só a Deus teria contas a prestar.
As desculpas presidenciais devem ser aceitas. Fica, contudo, a sensação de que se presenciou um inquietante e simbólico avanço de sinal.


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