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ELIANE CANTANHÊDE
Cadê o "paz e amor"?
BRASÍLIA - Lula avisou informalmente que iria à posse dos três novos
ministros que ele próprio nomeou
para o Supremo Tribunal Federal,
mas, na véspera, já no final da tarde,
a assessoria do Planalto ligou para a
assessoria do Supremo desmarcando
a presença.
Horas antes, Lula havia dito publicamente que nem Judiciário nem Legislativo têm poder para atrapalhar
seus próprios planos. "Só Deus."
Lula também avisou que iria ontem à Fiesp. Mais uma vez, cancelou
em cima da hora e deixou os caras
perplexos, até porque foi logo depois
de empresários de todo o país se reunirem em Brasília para fazer marcha
pedindo algo razoável: que as reformas não aumentem a carga tributária deles, já altíssima (como a nossa
também, aliás).
Esse novo Lula, pós-posse, parece
ter muito pouco a ver com aquele da
campanha, que dava a outra face,
engolia em seco, só abria a boca para
fazer promessas e falar o que tinha
certeza. É o Lula que deixa de lado o
discurso escrito, libera o inconsciente,
recria a história do "aquilo roxo" e
diz o que efetivamente pensa do Congresso e do Judiciário. É o que desmarca compromissos em represália.
Dizem por aí que o poder corrompe,
o que significa uma enormidade de
coisas. No caso do novo presidente, o
poder parece estar soterrando o "Lulinha paz e amor" e apresentando à
nação o "Lula todo-poderoso", assessorado por "Dirceu, o rancoroso".
Por mais que as reformas tributária
e da Previdência sejam necessárias,
Lula e Dirceu sempre souberam que
há enormes conflitos de interesse, direitos (justos ou injustos) adquiridos
e grupos de pressão prontos para reagir. Há que negociar. O que não faz
parte é o presidente se achar o único
detentor da verdade e do bem, o único a saber o que é melhor para o país.
Presidentes devem medir as palavras e evitar gafes uma atrás da outra. Devem também ouvir, compor e
eventualmente ceder. Além, é claro,
do básico: comparecer a compromissos oficiais nos quais são ansiosa e
justamente aguardados.
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