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Meta realista
O regime de metas de inflação já está maduro o bastante para absorver algumas medidas que visem a aperfeiçoá-lo
O
CONSELHO Monetário
Nacional (CMN) deverá estabelecer, na
quinta-feira, a meta de
inflação para 2008 em 4,5%,
mantendo a margem de tolerância em dois pontos percentuais
para cima e para baixo. Trata-se
dos mesmos parâmetros definidos para 2006 e 2007.
O regime de metas foi instituído em meados de 1999, após a
ruptura da âncora cambial. A
despeito do elevado preço pago
em termos de crescimento e emprego, as taxas de inflação têm
caminhado para as metas. Em
2006, as expectativas dos agentes econômicos, divulgadas no
boletim "Focus", do Banco Central, sinalizam variação do IPCA
(Índice de Preços ao Consumidor Amplo) -que baliza a política- em 4,04%, abaixo do centro
da meta de 4,5%. Para 2007, as
expectativas indicam o pleno
cumprimento da meta, 4,5%.
O "Relatório de Inflação", divulgado pelo BC em março, procurou decompor a variação do
IPCA. Em 2001 e 2002, destacou-se a importância da desvalorização cambial para a variação
do índice de preços. Em 2003, o
principal componente foi a inércia inflacionária, refletindo os
efeitos da desvalorização da taxa
de câmbio e da deterioração das
expectativas durante a eleição
presidencial de 2002.
Desde então, exatamente ao
contrário do período anterior, a
valorização cambial contribuiu
decisivamente para a redução da
inflação. Diante desse expressivo
papel da taxa de câmbio, seja para a inflação, seja para a desinflação, o sistema de metas precisa
ganhar flexibilidade ao lidar com
as flutuações cambiais, a fim de
comprometer menos a geração
de emprego e a competitividade
das exportações. Como esta Folha vem defendendo, o sistema
está maduro para absorver aperfeiçoamentos, a fim de tornar
menos rígida a condução da política monetária.
Há várias alternativas em discussão. Pode-se, por exemplo,
ampliar o prazo em que o Banco
Central persegue a meta, atualmente restrito ao ano-calendário. Nesse caso, o BC pode aceitar
uma inflação temporariamente
mais alta e fazer a convergência
dos preços para a trajetória das
metas num prazo de 24 meses.
Pode-se adotar uma medida de
núcleo de inflação (como a que
exclui preços administrados),
perseguindo apenas os preços livres -porque os administrados
não respondem aos movimentos
nas taxas de juros.
Enfim, enquanto não se consegue reduzir a volatilidade da taxa
de câmbio, parece pouco sensato
ambicionar uma meta de inflação muito mais baixa que a atual.
Perseguir objetivos muito ambiciosos implica manter uma política monetária excessivamente
apertada, com juros elevados,
comprometendo o desempenho
da economia e o emprego.
A próxima reunião do CMN seria a oportunidade para o governo introduzir algumas mudanças no funcionamento do regime
de metas, iniciando uma transição suave rumo a sistema mais
flexível e eficaz. Outra ponto importante que poderia ser discutido seria uma agenda de desindexação dos preços administrados.
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