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Rio pra europeu ver
CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
Rio de Janeiro - Não é nem pra inglês
ver, este Rio que a Prefeitura limpou,
reformou e empetecou para a cúpula
que começa amanhã, já que o primeiro-ministro Tony Blair deu o bolo.
O que os cidadãos cariocas, os turistas estrangeiros e brasileiros, as autoridades nacionais, o próprio FHC e
seus predecessores devem estar se perguntando é: o que será que Chirac e
companhia têm de tão especial para
justificarem a maquiagem da cidade?
O túnel do Pasmado, o túnel Novo, o
aterro do Flamengo, boa parte do centro velho e da zona sul passaram por
uma recauchutagem que havia muito
tempo não se fazia naquelas áreas.
Ótimo. Antes uma vez ou outra do
que nunca. Melhor ainda se, de algum
modo, houver manutenção, embora
ninguém acredite nessa possibilidade.
Mas será proveitosa a política de fazer nas cidades o que deveria ser obrigação rotineira apenas quando o papa
ou outro alto dignitário as visitam?
Nos tempos da Guerra Fria, dizia-se
que, para superá-la, bastaria colocar
Kennedy e Khruschov trancados, sem
comida nem água, sob a condição de
serem soltos só quando tivessem chegado a um acordo para garantir a paz.
Sugestão meio absurda, claro. Mas
talvez fosse pedagógico para os líderes
europeus uma amostra da vida real de
uma grande metrópole dos chamados
"países em desenvolvimento".
Assim como poderia ser muito útil
para os ocupantes do poder do próprio
Brasil olhar com mais frequência para
a realidade de que se distanciaram.
Se o presidente da República, nas
suas viagens a São Paulo, fosse obrigado a passar nas ruas por baixo do Minhocão, parando no vermelho dos semáforos e encarando as dezenas de
pessoas que vivem ali, quem sabe não
se aguçasse sua notória sensibilidade
social aparentemente entorpecida?
No justo desejo de agradar aos ilustres visitantes, a Prefeitura do Rio os
poupou de um choque que seria capaz
de tirar alguns deles, em especial os
que, no passado, chegaram a ter pendores socialistas, do torpor burocrático a que quase todos se submeteram.
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