São Paulo, Domingo, 27 de Junho de 1999
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Rio pra europeu ver

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA

Rio de Janeiro - Não é nem pra inglês ver, este Rio que a Prefeitura limpou, reformou e empetecou para a cúpula que começa amanhã, já que o primeiro-ministro Tony Blair deu o bolo.
O que os cidadãos cariocas, os turistas estrangeiros e brasileiros, as autoridades nacionais, o próprio FHC e seus predecessores devem estar se perguntando é: o que será que Chirac e companhia têm de tão especial para justificarem a maquiagem da cidade?
O túnel do Pasmado, o túnel Novo, o aterro do Flamengo, boa parte do centro velho e da zona sul passaram por uma recauchutagem que havia muito tempo não se fazia naquelas áreas.
Ótimo. Antes uma vez ou outra do que nunca. Melhor ainda se, de algum modo, houver manutenção, embora ninguém acredite nessa possibilidade.
Mas será proveitosa a política de fazer nas cidades o que deveria ser obrigação rotineira apenas quando o papa ou outro alto dignitário as visitam?
Nos tempos da Guerra Fria, dizia-se que, para superá-la, bastaria colocar Kennedy e Khruschov trancados, sem comida nem água, sob a condição de serem soltos só quando tivessem chegado a um acordo para garantir a paz.
Sugestão meio absurda, claro. Mas talvez fosse pedagógico para os líderes europeus uma amostra da vida real de uma grande metrópole dos chamados "países em desenvolvimento".
Assim como poderia ser muito útil para os ocupantes do poder do próprio Brasil olhar com mais frequência para a realidade de que se distanciaram.
Se o presidente da República, nas suas viagens a São Paulo, fosse obrigado a passar nas ruas por baixo do Minhocão, parando no vermelho dos semáforos e encarando as dezenas de pessoas que vivem ali, quem sabe não se aguçasse sua notória sensibilidade social aparentemente entorpecida?
No justo desejo de agradar aos ilustres visitantes, a Prefeitura do Rio os poupou de um choque que seria capaz de tirar alguns deles, em especial os que, no passado, chegaram a ter pendores socialistas, do torpor burocrático a que quase todos se submeteram.


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