São Paulo, Domingo, 27 de Junho de 1999
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Compromisso com o livre comércio



O Reino Unido, como os parceiros do Mercosul, deseja a ampla liberação do comércio mundial de produtos agrícolas
ROBIN COOK
O Reino Unido é um firme defensor do livre comércio. Por séculos a fio, temos figurado entre os principais parceiros comerciais do mundo; ainda hoje, integramos o cerne da economia mundial. Nossa política é simples: desejamos instituir o livre comércio mundial de bens e serviços no menor espaço de tempo possível, pois acreditamos que essa prática será benéfica a todos.
A principal questão é como atingiremos nosso objetivo. A próxima reunião sobre o comércio mundial, a Rodada do Milênio, será uma importante oportunidade para tratar do cancelamento das restrições ao livre comércio. Esperamos assistir à abertura da rodada no final deste ano, em Seattle (Estados Unidos), e desejamos que ela se encerre em três anos. Não podemos permitir que ela se estenda, como as rodadas anteriores. É preciso concluí-la com brevidade, para que nossos consumidores e nossas empresas possam usufruir prontamente dos seus resultados.
Esperamos também que a próxima rodada seja a mais abrangente possível, incluindo desde tarifas industriais até a compra de produtos e a contratação de serviços por órgãos governamentais. Todos os países poderão, desse modo, procurar viabilizar ganhos em áreas de maior interesse, bem como utilizar seus ganhos de modo a abrandar as decisões penosas em outras áreas.
O principal tema para que essa rodada seja bem-sucedida será a agricultura. O Reino Unido, tal qual nossos parceiros do Mercosul, deseja a ampla liberação do comércio mundial de produtos agrícolas. A União Européia tem alterado sua política agrícola em diversas circunstâncias, sendo que a última se deu em março deste ano. Novas alterações, no entanto, serão inevitavelmente necessárias. A rodada terá um papel decisivo no delineamento das políticas agrícolas de todos os países.
A Cimeira América Latina e Caribe/União Européia, no Rio de Janeiro, proporcionará uma oportunidade para fortalecer os laços comerciais entre as duas regiões. O propósito do Reino Unido, compartilhado pelos países-membros do Mercosul, é a liberação do comércio em todos os setores. Propostas construtivas sobre o estabelecimento de laços comerciais entre o Mercosul e o Chile estão se apresentando. O Reino Unido as apóia e aspira à formalização de um acordo ambicioso.
Primeiramente, União Européia e Mercosul deverão iniciar, de imediato, trabalhos conjuntos na preparação para a próxima rodada sobre comércio. O que pudermos alcançar para que esse encontro seja bem-sucedido representará um grande impulso ao livre comércio entre as duas regiões.
Em segundo lugar, devemos iniciar prontamente as negociações para remover barreiras não-tarifárias entre Mercosul e União Européia. Essas barreiras, assim como os impostos de importação, podem ser aniquiladoras do livre comércio. É preciso tomar cuidado para que nada obstrua desnecessariamente o comércio livre e equitativo, seja na forma de regulamentos alfandegários ou de especificações técnicas.
Em terceiro, devemos também priorizar o início das conversações para a redução das tarifas sobre produtos e serviços. Transações comerciais realizadas entre parceiros devem ser, sempre que possível, pouco onerosas, a fim de que nossas empresas possam exportar e nossos consumidores possam se beneficiar de uma maior variedade de produtos e de preços módicos.
O Reino Unido está comprometido com o livre comércio. Nossos consumidores desejam usufruir dos benefícios dos preços baixos. Nossas empresas desejam comercializar seus produtos com equidade e facilidade em todo o mundo. Sabemos que o livre comércio tem a capacidade de elevar o padrão de vida, erradicar a pobreza de comunidades inteiras e favorecer o desenvolvimento sustentável. Desde 1990, sua prática tem ajudado os países em desenvolvimento a duplicar a renda "per capita", o que beneficia o equivalente a um terço da população mundial.
Percorremos um longo caminho nos últimos anos. Economia mundial já não é mais apenas um slogan: é uma realidade do dia-a-dia dos nossos empresários. No entanto, temos ainda um caminho extenso a percorrer para conquistar o comércio genuinamente livre e equitativo. Europa e Mercosul podem unir forças para o estabelecimento desse tipo de economia. Nosso encontro, por ocasião da reunião no Rio, representará uma oportunidade especial para criar essa parceria. O Reino Unido está seguro de que devemos nos valer dessa circunstância favorável.
Robin Cook, 53, mestre em literatura inglesa pela Universidade de Edimburgo, é ministro das Relações Exteriores do Reino Unido.


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