São Paulo, terça-feira, 27 de agosto de 2002

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CLÓVIS ROSSI

Seguuura, eleitor!

SÃO PAULO - No fim da manhã de sábado, o aeroporto de Barretos era o retrato acabado da casa-da-mãe-joana em que se transformou a política brasileira -para não usar outra palavra também iniciada com "c".
Michel Temer, o presidente do PMDB, foi o primeiro a chegar. Ficou esperando o aviãozinho seguinte para receber ou José Serra, o candidato presidencial de Temer, ou Orestes Quércia, o candidato a senador por São Paulo do partido de Temer, embora Quércia seja o inimigo-mór do tucanato paulista.
Recebeu ambos no final das contas. No intervalo entre um e outro, desembarcou a turma do PT, com o deputado Aloizio Mercadante à frente, ele também candidato a senador por São Paulo e ex-inimigo mortal de Quércia e do quercismo.
Um jovem com o adesivo de Quércia pregado na camisa suada aperta a mão de Mercadante e promete-lhe o voto (o segundo voto, imagino, já que o primeiro, ao menos em tese, iria para Quércia).
Mercadante fica feliz. Aliás, fica feliz com qualquer segundo voto.
Provoco: "Está esperando o Quércia para começar a carreata?".
Mercadante sorri amarelo. Ainda não chegou a tanto. Espera por Eduardo Suplicy, que já está em campanha para a Presidência em 2006. Tem lógica: se Luiz Inácio Lula da Silva, o candidato do PT, perder agora, nunca mais se candidata. Se ganhar, "já disse várias vezes que não disputará a reeleição", anotou e repassa Suplicy.
Quércia vai embora no carro de Uebe Rezeck, o prefeito, que, na véspera, jantara com Paulo Maluf, ao qual só pode ter prometido apoio, tanto que Maluf disse ao jornal local que Rezeck poderia pedir tudo o que quisesse que seria atendido.
À noite, na Festa do Peão (que afinal me levara a Barretos), o grito de "segura, peão" parecia feito para mim, que já acreditei que havia mocinhos e bandidos na política -e eles não se misturavam.


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