São Paulo, terça-feira, 27 de agosto de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ELIANE CANTANHÊDE

Passaporte para o futuro

JOHANNESBURGO - Fernando Henrique Cardoso chega no próximo domingo a Johannesburgo, África do Sul, pronto para brilhar na Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável, a "Rio +10".
O momento é oportuno, pois FHC pretende ser, simultaneamente, um presidente que se despede em grande estilo do cenário internacional e um futuro ex-presidente que apresenta suas credenciais como um dos próximos líderes mundiais. Pelo menos dos "países em desenvolvimento".
O cenário também é especialmente adequado. O Brasil pode não ser lá essas coisas em cúpulas de comércio, de finanças e muito menos de segurança. Mas é uma potência, orgulhosa e saltitante como seus delegados, em megarreuniões sobre ambiente.
Não só porque tem a maior biodiversidade do planeta mas porque tenta caprichar depois de ter sediado a histórica Eco-92, no Rio de Janeiro. O governo federal evoluiu muito nessa área, alguns governos estaduais fizeram o que podiam, o Acre é um sucesso internacional (menos pelo TRE...). E, acima de tudo isso e apesar da montoeira de coisas que ainda há por fazer, a cidadania abriu os olhos.
FHC, portanto, vem quente que os países desenvolvidos estão fervendo. Liderados pelos EUA e pelo absurdo de George W. Bush, querem fechar os olhos para os próprios erros e os bolsos para os erros dos mais pobres.
O presidente brasileiro não estará falando sozinho. Ele tem a delegação dos 33 países da América Latina e do Caribe e, cá pra nós, vem articulando uma espécie de aliança com Tony Blair, do Reino Unido, na reunião final de chefes de Estado.
Até lá, as reuniões técnicas se multiplicam nas salas e auditórios do Sandton Centre, com ricos disputando cada vírgula com pobres e com governos digladiando-se com ONGs. Mas a fitinha vermelha que Marcelo Furtado, do Greenpeace, usa no pescoço pode unir ONGs e ex-governos. "Bush, don"t burn our future!" (Bush, não queime nosso futuro!), diz. FHC, o presidente, jamais repetiria isso. Mas FHC, o candidato ao futuro, adoraria poder fazê-lo.


Texto Anterior: São Paulo - Clóvis Rossi: Seguuura, eleitor!
Próximo Texto: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: Caramba, carambola
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.