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DISPARATE FINANCEIRO
São indefensáveis os patamares dos juros cobrados pelas
instituições financeiras no Brasil,
nos empréstimos seja a empresas,
seja a pessoas físicas, no crédito pessoal, no cartão de crédito ou no cheque especial. A diferença entre a taxa
de captação dos bancos e aquela praticada no mercado, o chamado
"spread", está, em média, em 32,4%
ao ano. As reduções promovidas pelo BC na taxa básica (Selic) praticamente não alteraram o panorama.
Se é verdade que a Selic a 22% permanece ainda muito elevada, é fato
também que tem sido pífia a resposta do setor financeiro à tendência declinante dos juros, bem como à tão
solicitada redução do depósito compulsório. A manter-se esse ritmo,
mesmo na hipótese de uma queda da
taxa básica para patamares toleráveis, os valores cobrados no "balcão"
permanecerão inaceitáveis.
Em encontro realizado anteontem
pelo grupo Lide, que reúne lideranças empresariais de diversos ramos,
a polêmica em torno dos "spreads"
esquentou quando o presidente da
Federação do Comércio de São Paulo, Abram Szajman, disse que teria
"vergonha" de cobrar os atuais juros
do cartão de crédito.
Presente ao debate, o presidente do
Banco Central, Henrique Meirelles,
concordou que o "spread" é "muito
alto" e que seria de esperar que estivesse em nível mais baixo do que se
encontra. Prosseguiu, no entanto,
afirmando que a autoridade monetária não reduzirá as taxas de mercado
de "forma mandatária".
Se o BC mostra-se reticente sobre
sua capacidade de influir mais decisivamente sobre os "spreads", é de indagar quem, então, poderá fazê-lo.
O que está claro, e já foi objeto de estudos tanto de economistas do Fundo Monetário Internacional como do
Tesouro norte-americano, é que o
sistema de intermediação financeira
no Brasil não cumpre sua função
precípua de oferecer crédito a taxas
compatíveis ao setor produtivo. Ambos os estudos não hesitam em mencionar a oligopolização financeira
como uma das principais causas
dessa grave distorção.
Não há dúvida de que o BC precisa
fazer sua parte, acelerando a redução
dos juros. A economia real permanece sufocada. Novos dados do IBGE,
que serão divulgados amanhã, provavelmente trarão más notícias sobre
a evolução do PIB no segundo trimestre. Cabe também às instituições
financeiras colaborar para que o país
não continue convivendo com tão
disparatadas assimetrias entre os setores financeiro e produtivo.
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