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São Paulo, quarta-feira, 27 de agosto de 2003

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DISPARATE FINANCEIRO

São indefensáveis os patamares dos juros cobrados pelas instituições financeiras no Brasil, nos empréstimos seja a empresas, seja a pessoas físicas, no crédito pessoal, no cartão de crédito ou no cheque especial. A diferença entre a taxa de captação dos bancos e aquela praticada no mercado, o chamado "spread", está, em média, em 32,4% ao ano. As reduções promovidas pelo BC na taxa básica (Selic) praticamente não alteraram o panorama.
Se é verdade que a Selic a 22% permanece ainda muito elevada, é fato também que tem sido pífia a resposta do setor financeiro à tendência declinante dos juros, bem como à tão solicitada redução do depósito compulsório. A manter-se esse ritmo, mesmo na hipótese de uma queda da taxa básica para patamares toleráveis, os valores cobrados no "balcão" permanecerão inaceitáveis.
Em encontro realizado anteontem pelo grupo Lide, que reúne lideranças empresariais de diversos ramos, a polêmica em torno dos "spreads" esquentou quando o presidente da Federação do Comércio de São Paulo, Abram Szajman, disse que teria "vergonha" de cobrar os atuais juros do cartão de crédito.
Presente ao debate, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, concordou que o "spread" é "muito alto" e que seria de esperar que estivesse em nível mais baixo do que se encontra. Prosseguiu, no entanto, afirmando que a autoridade monetária não reduzirá as taxas de mercado de "forma mandatária".
Se o BC mostra-se reticente sobre sua capacidade de influir mais decisivamente sobre os "spreads", é de indagar quem, então, poderá fazê-lo. O que está claro, e já foi objeto de estudos tanto de economistas do Fundo Monetário Internacional como do Tesouro norte-americano, é que o sistema de intermediação financeira no Brasil não cumpre sua função precípua de oferecer crédito a taxas compatíveis ao setor produtivo. Ambos os estudos não hesitam em mencionar a oligopolização financeira como uma das principais causas dessa grave distorção.
Não há dúvida de que o BC precisa fazer sua parte, acelerando a redução dos juros. A economia real permanece sufocada. Novos dados do IBGE, que serão divulgados amanhã, provavelmente trarão más notícias sobre a evolução do PIB no segundo trimestre. Cabe também às instituições financeiras colaborar para que o país não continue convivendo com tão disparatadas assimetrias entre os setores financeiro e produtivo.


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