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ANTONIO DELFIM NETTO
Reforma previdenciária
A Câmara dos Deputados finaliza a votação da reforma previdenciária proposta pelo Executivo.
Como é absolutamente normal (é para isso que existe o Legislativo), o resultado do trabalho do relator, o ilustre deputado José Pimentel, saiu diferente da proposta original, pois o contraditório no plenário da Câmara
mostrou que ela podia ser aperfeiçoada. Na Comissão Especial, a proposta
do relator só foi aprovada porque alguns partidos da base do governo
substituíram seus representantes que
faziam uma oposição obstinada, o que
causou um certo mal-estar.
É tradição na Câmara, entretanto,
que, quando o "líder" do partido indica os seus representantes para uma
Comissão Especial, estes deverão votar de acordo com a "definição partidária". Há, certamente, uma arbitrariedade nessa tradição, mas, sem ela, é
impossível construir uma "base governamental" ou uma "oposição articulada" sem excluir sistematicamente
das comissões uma boa parte da Câmara. Trata-se, pois, de uma necessidade prática, construída a partir da
vontade da maioria. Se 51% dos deputados de um partido decidem ser "base governamental", isso não obriga os
outros 49% a votarem com o governo.
Obriga, entretanto, o líder a acompanhá-lo na sua "declaração de voto".
Pode-se imaginar um deputado votar
a favor na comissão, por obediência
ao partido, e votar contra no plenário.
É natural, portanto, que, no contraditório mais duro do plenário, os projetos sofram modificações que visem
aperfeiçoá-los, que é o que vai ocorrer
com a reforma tributária. A visão maniqueísta de que toda emenda aprovada seria deletéria à reforma não pode
ser aceita. Muito menos pode ser aceita a interpretação de que "cada mudança no projeto original é uma derrota do governo", concepção profundamente antidemocrática. Ela pressupõe que o Executivo seja portador de
uma verdade incontestável e que qualquer mudança seja uma violação do
bem comum. Os burocratas do governo, que produzem os projetos, transferem a eles as suas idiossincrasias, o
que se dá também com alguns deputados. O debate acontece em torno da
avaliação dos benefícios (presentes e
futuros) da reforma e dos custos (materiais e psicológicos) que ela imporá
aos cidadãos. A arte é maximizar os
benefícios com um mínimo de sacrifícios materiais e psicológicos.
Olhada no seu conjunto, a reforma
previdenciária é melhor do que parece. O ponto verdadeiramente fundamental, no que toca às finanças, foi a
ampliação da idade mínima da aposentadoria, que, como se vê no gráfico
abaixo, já é "moda" no mundo desenvolvido. No mais, houve uma contribuição para moralizar aspectos da
aposentadoria do serviço público, que
ameaçava não caber no PIB nacional...
Antonio Delfim Netto escreve às quartas-feiras nesta coluna.
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