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São Paulo, quarta-feira, 27 de agosto de 2003

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CARLOS HEITOR CONY

Suspeita

RIO DE JANEIRO - O nome pode mudar, ser substituído por "especulação", que não tem o sentido pejorativo da suspeita, mas funciona como tal. Sendo a política o território preferencial da suspeita ou da especulação, nada demais que o cronista comente o que começa a ser suspeitado ou especulado neste final de começo do governo Lula.
Sabe-se que a crise é geral e profunda. O próprio governo é o primeiro a admitir que a situação está ruim. Lula costuma dizer que "não sabia" que as coisas estavam indo pelo ralo. As soluções para sair do brejo onde a vaca foi parar são lentas. E os remédios circunstanciais se resumem em dinheiro a curto prazo, em caixa, para as empresas saírem do vermelho e se aprumarem numa economia que priorize o desenvolvimento e não a contabilidade. Lógico que os bancos estão fora disso, eles vivem exatamente do dever & haver.
Tudo bem. Algozes e vítimas descobriram que a solução é a guitarra do Banco Central. Está nas mãos da equipe econômica e do próprio Lula rodar a manivela para atender ao mercado sufocado pela recessão.
Acontece que tudo tem um preço. E o preço que se esboça para azeitar a operação (ajuda às empresas em dificuldade) já teria sido arbitrado: a reeleição de Lula em 2006. Os acordos e esquemas que entrariam em vigor teriam este referencial: quatro anos é pouco para um governo realizar as proezas que prometeu. Desta vez, nem será necessário mexer na Constituição. Na realidade, o mandato atual é pouco. Pessoalmente, acho que o ideal seriam os cinco anos, que Fernando Henrique Cardoso quis negar ao substituto de Tancredo pela afobação em chegar lá, obrigando Sarney a dar voltas para perder apenas um ano dos seis a que tinha direito pela Constituição em que fora diplomado.
São águas passadas que voltam: o tamanho do mandato presidencial. E enquanto não se chega ao ideal, ficaremos sujeitos à barganha, o governo comprando o direito de ser mais governo.


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