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CARLOS HEITOR CONY
Suspeita
RIO DE JANEIRO - O nome pode mudar, ser substituído por "especulação", que não tem o sentido pejorativo da suspeita, mas funciona como
tal. Sendo a política o território preferencial da suspeita ou da especulação, nada demais que o cronista comente o que começa a ser suspeitado
ou especulado neste final de começo
do governo Lula.
Sabe-se que a crise é geral e profunda. O próprio governo é o primeiro a
admitir que a situação está ruim. Lula costuma dizer que "não sabia" que
as coisas estavam indo pelo ralo. As
soluções para sair do brejo onde a vaca foi parar são lentas. E os remédios
circunstanciais se resumem em dinheiro a curto prazo, em caixa, para
as empresas saírem do vermelho e se
aprumarem numa economia que
priorize o desenvolvimento e não a
contabilidade. Lógico que os bancos
estão fora disso, eles vivem exatamente do dever & haver.
Tudo bem. Algozes e vítimas descobriram que a solução é a guitarra do
Banco Central. Está nas mãos da
equipe econômica e do próprio Lula
rodar a manivela para atender ao
mercado sufocado pela recessão.
Acontece que tudo tem um preço. E
o preço que se esboça para azeitar a
operação (ajuda às empresas em dificuldade) já teria sido arbitrado: a
reeleição de Lula em 2006. Os acordos e esquemas que entrariam em vigor teriam este referencial: quatro
anos é pouco para um governo realizar as proezas que prometeu. Desta
vez, nem será necessário mexer na
Constituição. Na realidade, o mandato atual é pouco. Pessoalmente,
acho que o ideal seriam os cinco
anos, que Fernando Henrique Cardoso quis negar ao substituto de Tancredo pela afobação em chegar lá,
obrigando Sarney a dar voltas para
perder apenas um ano dos seis a que
tinha direito pela Constituição em
que fora diplomado.
São águas passadas que voltam: o
tamanho do mandato presidencial. E
enquanto não se chega ao ideal, ficaremos sujeitos à barganha, o governo
comprando o direito de ser mais governo.
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