São Paulo, quarta-feira, 27 de agosto de 2003 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES A verdade sobre os bingos
LUIZ FERNANDO DELAZARI
No tempo de nossos bisavós, ouvia-se dizer que "as máquinas nunca perdem para o apostador", ou que "não existe dono de casas de jogos que tenha empobrecido por pagar tantos prêmios". Porém essas evidências não são suficientes para que a população enxergue o que há por trás dos bingos. Ao contrário do que a megacampanha veiculada pela Associação Brasileira dos Bingos procura propagar na mídia nacional, os bingos não são "empresas" multiplicadoras de empregos. Na verdade, o número de famílias destruídas em decorrência da dependência do jogo supera, e muito, os poucos postos de trabalho gerados pelos bingos. A situação é tão grave que, em Curitiba, foi criada uma associação, nos mesmos moldes dos Alcoólicos Anônimos, que dá suporte às pessoas que se viciaram em bingos e máquinas caça-níqueis. Um caso emblemático, constatado no início deste ano, foi o de uma senhora cujo marido morava no Japão para acumular patrimônio e retornar em breve ao Brasil. Viciada em bingos, gastou todo o dinheiro com o jogo ao longo de meses. Às vésperas da volta do marido, ela cometeu suicídio para não enfrentar a terrível situação de lhe contar a verdade. Assim como este, há centenas de outros casos em que famílias foram à bancarrota. A seriedade com que esse problema nacional deve ser encarado estimulou o Ambulatório do Jogo Patológico, da Universidade de São Paulo, a se dedicar exclusivamente ao tema. Entre outras conclusões, os pesquisadores descobriram que, a partir do boom das casas de bingo, em 1998, o número de pessoas compulsivas por jogos cresceu mais de cinco vezes na cidade de São Paulo -sendo os bingos e máquinas caça-níqueis responsáveis por nada menos do que 78% desse incremento. No universo pesquisado, 17 % dos entrevistados confessaram ser dependentes das máquinas caça-níqueis e de videopôquer. Pior: 14% dos dependentes já pensaram em suicídio mais de uma vez. Com tantas comprovações, esperamos que o exemplo dado pelo Paraná possa ser seguido pelos demais Estados da Federação. Luiz Fernando Delazari, 32, é secretário da Segurança Pública do Paraná. Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Lauro Marcos Muniz Barretto Cotta: Marca no botijão: direito do consumidor Índice |
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