São Paulo, sábado, 27 de agosto de 2005

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LUCIANO MENDES DE ALMEIDA

Grito dos Excluídos 2005

No dia 7 de setembro, continuando a tradição iniciada em 1995, organiza-se o Grito dos Excluídos, ligado ao anseio de independência e de cidadania plena numa pátria livre e soberana.
A cada ano, renova-se a tomada de consciência da exclusão social e reafirma-se o compromisso com a justiça e com solidariedade, garantindo a todos condições dignas de vida. Não se trata apenas de gritar contra as injustiças, o que é necessário, mas de empenhar-se por metas claras e viáveis.
O grito de 2004 já se referia à necessidade de mudanças. Neste ano, o lema "Brasil, em nossas mãos a mudança" insiste no simbolismo das mãos que constroem para indicar a urgência de empreender ações concretas e de colaborar a fim de que se realizem.
O grito convoca para uma avaliação objetiva do drama da desigualdade social. Os dados são conhecidos, e basta lembrar o enorme desequilíbrio na distribuição da renda nacional, pois, segundo o IPEA, em 2002, os 50% mais pobres recebiam 14,4% da renda nacional, ao passo que o 1% dos mais ricos detinha 13,5% dessa renda. É preciso, no entanto, não se acomodar com essa desigualdade, mas organizar-se para garantir aos excluídos alcançar os bens necessários, a começar do trabalho.
Na sua metodologia, o grito insiste em acreditar na união dos grupos populares e na atuação do próprio povo sofrido, que deve mobilizar-se e expressar seus objetivos de participar dos debates em busca de soluções que consolidem o regime democrático, garantindo a todos o exercício da cidadania
A mudança preconizada no lema tem por base a constatação de que o atual sistema econômico não conseguiu promover as políticas públicas para vencer o desemprego, ajustar o salário e, em especial, assegurar o acesso bem programado dos trabalhadores rurais à terra.
As conquistas na superação da exclusão social estão vinculadas a três componentes: resolver o problema dos altos juros e dos serviços do endividamento externo, que dependem de ajustes exigidos pelo capital financeiro internacional; programar o reto uso dos recursos naturais, evitando a exploração descontrolada e predatória; eliminar a corrupção, que usa de modo ilícito os bens públicos com desvio de verbas e gastos com campanhas eleitorais.
Em todo esse processo em prol da soberania, permanece o dever de sustentar a esperança do povo e a confiança no direito e nas soluções pacíficas, evitando o desânimo que vai penetrando no inconsciente coletivo. É hora de colocar os interesses do Brasil acima das vantagens de partidos e grupos.
Atenção especial merece nossa juventude, que aguarda a oportunidade de trabalhar, pois 39% dos desempregados têm entre 18 e 24 anos de idade. Quem não se impressiona com o crescimento entre os jovens da violência e do uso das drogas e até perda da vontade de viver?
O "Grito" de 2005 é, também, um apelo aos dirigentes do país a fim de que se voltem com rapidez para os anseios do povo e atendam, especialmente nos municípios, as necessidades urgentes dos excluídos.
Unidos aos trabalhadores em romaria à Padroeira do Brasil, no dia da pátria, peçamos a Deus que fortaleça em nós os laços da fraternidade. O grito vira prece. Temos de aprender a unir as mãos e construir juntos a pátria sem exclusões, com pão e com paz para todos.


Dom Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados nesta coluna.
@ - almendes@feop.com.br


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