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Mistérios de Dilma
Ao tornar inacessíveis os dados referentes à prisão da candidata Dilma Rousseff, o STM sonega informações de evidente interesse público
Encontram-se guardados a sete
chaves, num cofre do Supremo
Tribunal Militar, os autos do processo que levou à prisão, em 1970,
a atual candidata do PT à Presidência da República.
É evidente a distância, temporal
e ideológica, entre aquela Dilma
Rousseff de 1970, integrante do
grupo guerrilheiro Vanguarda Armada Revolucionária-Palmares, e
a candidata de hoje.
A superação de extremismos e
fantasmas ideológicos foi uma
conquista, obtida não sem esforço
e resistência, de toda a sociedade
brasileira em seu processo de redemocratização.
Até mesmo em função dessa circunstância, não faz nenhum sentido manter em sigilo os documentos relativos ao processo movido
contra Dilma Rousseff durante o
regime autoritário.
É da essência republicana que a
biografia de um candidato se exponha ao exame até mesmo impiedoso da opinião pública. Trata-se, afinal, de alguém que pretende
assumir o comando do país.
Vale lembrar que as simples declarações de bens de cada candidato, exigidas pelos tribunais eleitorais, não eram divulgadas ao
público -tendo sido necessário
um mandado judicial para que a
Folha pudesse publicá-las pela
primeira vez, há mais de dez anos.
Sabe-se até que ponto, nos Estados Unidos, é levado à risca o
princípio de que nenhum aspecto
da vida privada de um candidato
está, em tese, a salvo do interesse
público. Do prontuário médico
aos hábitos de consumo, do currículo escolar ao cotidiano doméstico, nada é irrelevante.
Ainda que, no Brasil, tenha-se o
costume de resguardar um pouco
mais a intimidade de governantes
e políticos, é dever da imprensa
escrutiná-la quando há motivos
razoáveis para supor sua possível
influência na condução dos negócios de Estado.
No caso do processo de Dilma
Rousseff, o segredo se torna ainda
mais aberrante quando se tem em
conta que são públicos os arquivos aos quais, num ato discricionário, o Supremo Tribunal Militar
negou acesso.
O presidente do STM, Carlos Alberto Soares, argumentou em entrevista que os autos foram guardados num cofre, para evitar-se
"uso político" do material. Acrescentou que os papéis são de "difícil manuseio", dado seu estado de
conservação.
Com os defeitos e virtudes que
possa ter, com os erros e acertos
que acumulou ao longo de sua
biografia, em especial no que diz
respeito a suas atitudes políticas,
Dilma Rousseff abandona a esfera
exclusiva da existência privada a
partir do momento em que pretende ocupar o cargo de presidente da República.
Não é exagero dizer que, apesar
de seus índices de popularidade,
pouco ainda se conhece a seu respeito -exceto aquilo que, graças
a uma operação intensiva de marketing, ao peso paquidérmico da
máquina oficial e ao desmedido
esforço cesarista do presidente
Lula, vem sendo imposto artificialmente ao eleitorado.
Nenhum sigilo, ainda mais
quando promovido por uma instância oficial, justifica-se nessa
circunstância.
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