São Paulo, sexta-feira, 27 de setembro de 2002

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ALÍVIO LIMITADO

Pela primeira vez em oito anos, o país obteve, em agosto, saldo positivo no balanço de transações de bens e serviços com o exterior. Essas transações trouxeram US$ 316 milhões de dólares ao país. O dado, divulgado ontem, não surpreendeu, pois já se sabia que em agosto o comércio exterior de bens havia propiciado saldo positivo de US$ 1,6 bilhão e poderia mais do que compensar o tradicional déficit do país na conta de serviços. Mesmo assim, a obtenção de dólares por meio das transações correntes chegou a ser saudada como evidência do veloz ajuste da economia à diminuição da entrada de capitais externos.
Visto isoladamente, esse resultado foi sem dúvida positivo. Mas uma visão do conjunto das contas externas é bem menos tranquilizadora. O pequeno superávit em conta corrente ficou longe de compensar o déficit na conta que reúne as transações de capital e financeiras. O resultado global foi uma redução das reservas internacionais líquidas do BC de US$ 2,2 bilhões em agosto.
Dentre os fluxos de capital externo, destacou-se, além da retração persistente da oferta de crédito, a perda de dinamismo do investimento direto. A maior aversão global ao risco está mitigando o ímpeto até mesmo desses fluxos, que desde 1997 vêm sendo o esteio das contas externas e poderiam, em tese, até se acelerar para tirar proveito do barateamento, em dólares, dos ativos brasileiros.
O ponto é que a retração dos fluxos de capital continua muito mais rápida do que a reação dos fluxos de transações correntes. O que mantém vulneráveis as contas externas do país -apesar do fôlego trazido pelo crédito do FMI.
A transição das contas externas para uma posição sustentável demandará um bom tempo, durante o qual o suporte do FMI será necessário para manter a credibilidade na solvência externa do país. A preservação desse suporte não está garantida. Por exemplo, se o FMI exigir, para conter a alta da dívida pública, aumentos recorrentes da meta de superávit primário, poderá surgir um impasse. Um impasse perigoso para todas as partes envolvidas.



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