São Paulo, segunda-feira, 27 de setembro de 2010

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A nova Petrobras


Capitalização bem-sucedida transforma empresa na quarta do mundo, mas não elimina incertezas acerca de sua atuação no futuro

Depois de mais de um ano de incertezas, a capitalização da Petrobras foi finalmente concluída. A empresa levantou R$ 120,3 bilhões (US$ 70 bilhões) no mercado de capitais para financiar a exploração do pré-sal.
Com a operação, a Petrobras passou a ser a 4ª maior empresa do mundo, chegando a um valor de mercado de US$ 212 bilhões, atrás apenas da Exxon Mobil, PetroChina e da Apple.
Do total, US$ 42,5 bilhões foram "captados" com a chamada cessão onerosa de 5 bilhões de barris da União. O governo conseguiu atingir seus objetivos: aumentar sua participação na Petrobras, que teria passado (somando União e outros entes federais) de 40% para 48%, segundo declarações do ministro da Fazenda; assegurar recursos para tocar um pedaço importante do plano de investimentos de US$ 224 bilhões até 2014; criar um fato político a pouco mais de uma semana das eleições presidenciais -Lula pôde dizer em sua breve passagem pela Bovespa que "nunca na história da humanidade" houve uma capitalização de tal envergadura.
Apesar das queixas dos acionistas minoritários de que a cessão onerosa de 5 bilhões de barris ao preço de US$ 8,50 era extorsiva (o que pode se revelar verdade em razão do alto risco presente na execução do projeto), houve demanda suficiente para concluir a parte em dinheiro da operação. Mas ainda não se sabe em detalhes como se dividirá a participação dos investidores realmente privados e a de outros governos interessados em ter acesso a recursos energéticos, como é o caso da China.
De todo modo, os minoritários que aceitaram participar não tinham muitas opções, uma vez que a maior parte das empresas de petróleo do mundo que permitem a presença de capital privado não parecem ter pela frente muitas oportunidades de crescimento. Especialmente depois da descoberta das grandes reservas do pré-sal, a Petrobras, das que estão em cena, tornou-se a petroleira com melhores perspectivas.
Por outro lado, trata-se de um desafio de gestão monumental, cercado de dificuldades técnicas. A tarefa agora será entregar um plano de investimentos com prazos e custos razoáveis.
E aqui surge uma das incertezas que certamente exerceu influência na queda de quase 30% no preço das ações da companhia verificada ao longo deste ano: até que ponto a maior participação do governo poderá se traduzir em menos eficiência?
A ampliação da presença na Petrobras é apenas uma faceta do avanço estatal. A nova regulação, aprovada no estilo rolo compressor no Congresso, terminou por esvaziar a Agência Nacional de Petróleo (ANP), conferindo ao governo e a uma nova empresa do Estado -a Petro-Sal- poder discricionário muito maior. É preciso aguardar para saber de que forma ele se manifestará.


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