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O FUTURO DO SALDO
Entre as razões para o sucesso
da luta contra a inflação destaca-se a reversão das expectativas de
desvalorização do real frente ao dólar. Na transição entre os governos
Lula e FHC, vinha da especulação
cambial uma das mais preocupantes
pressões inflacionárias.
O sucesso, no entanto, é explicado
em boa medida pela retração da atividade econômica movida a juros reais
elevadíssimos. A contração do mercado interno leva a uma queda nas
importações ao mesmo tempo em
que aumenta o excedente de produtos exportáveis.
A boa notícia, que é um saldo superior a US$ 20 bilhões em 2003, depende nesse caso, em parte, de notícias ruins -juros altos e contenção
do crescimento. A julgar, porém, pela profundidade do desemprego e
pelo desalento empresarial, o equilíbrio entre boas e más notícias é precário. A sustentabilidade de um saldo tão expressivo é duvidosa, sobretudo a partir do momento em que
surtir efeito a redução gradual dos juros conduzida pelo BC.
O próprio governo emite sinais
ambíguos nesse campo. De um lado,
o ministro do Desenvolvimento,
Luiz Fernando Furlan, projeta um
crescimento de 10% nas exportações
em 2004. De outro, o secretário-executivo da Câmara de Comércio Exterior do mesmo Ministério, Mário
Mugnaini, anuncia estudos que
apontam para uma redução do saldo
da balança comercial para US$ 10 bilhões em 2007. Ou seja, menos da
metade do saldo atual.
Nas atuais condições de desenvolvimento tecnológico, é impossível
crescer contendo importações. As
necessidades de modernização exigem a importação de equipamentos
de última geração. O crescimento
econômico também requer maior
consumo de insumos importados.
Resta saber com base em que modelo macroeconômico e de políticas
industriais o governo pretende harmonizar as previsões de saldo declinante com a necessidade de evitar
novas ondas de desvalorização cambial. Esse horizonte de longo prazo
continua nebuloso e incerto.
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