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ESTADO E IGREJA
Como que a coroar a sucessão
de absurdos que caracteriza o
ensino religioso na rede pública fluminense, a Secretaria Estadual de
Educação do Rio divulgou edital de
concurso para professores de religião que prevê punições como afastamento ou demissão para o docente
que "perder a fé e tornar-se agnóstico ou ateu". Quem determinará o
eventual afastamento do professor é
a autoridade religiosa que o credenciou para participar do concurso.
O Rio de Janeiro está substituindo
o ensino religioso de caráter mais genérico (histórico-antropológico) pelo confessional. Esse golpe contra a
separação entre Estado e igreja foi
possível por uma conjunção de forças de católicos e evangélicos. O projeto foi apresentado pelo ex-deputado católico Carlos Dias (PP) e sancionado em 2002 pelo ex-governador
evangélico Anthony Garotinho.
O pecado original do ensino religioso, contudo, não pode ser atribuído ao Rio de Janeiro. Ele está na própria Constituição de 1988, cujo artigo
210, parágrafo 1º, proclama: "O ensino religioso, de matrícula facultativa,
constituirá disciplina dos horários
normais das escolas públicas de ensino fundamental". A norma constitucional volta a aparecer no artigo 33
da Lei de Diretrizes e Bases da Educação, que, entretanto, veda "quaisquer formas de proselitismo". Já haveria aí argumentos para questionar
a legalidade da lei fluminense.
É claro que as pessoas têm o direito
de ensinar religião a seus filhos, mas
que o façam em seus lares e igrejas,
sem ferir a laicidade do Estado. É
inadmissível até cogitar de contratar
professores para cursos optativos
quando faltam docentes de matérias
obrigatórias como matemática e língua portuguesa.
No mais, nunca é demais insistir
no fato de que foi a separação entre
Estado e igreja que permitiu o surgimento das democracias contemporâneas. A Carta de 88, infelizmente,
consagrou um retrocesso. O ideal seria promover uma reforma constitucional para acabar com a necessidade do ensino religioso financiado pelo Estado. É pouco provável, contudo, que parlamentares se disponham a "votar contra Deus".
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