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São Paulo, segunda-feira, 27 de outubro de 2003

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FERNANDO RODRIGUES

O devaneio de Palocci

BRASÍLIA - Eu não tenho R$ 1 milhão depositado no banco. Se tivesse, a última coisa que faria seria seguir o conselho do ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho: "É preciso que os empresários respondam com o investimento de recursos que levem ao aumento das exportações, das ofertas de emprego e do consumo".
Só um parvo tomaria o caminho sugerido pelo médico sanitarista Palocci. Depositar R$ 1 milhão em qualquer agência bancária da esquina rende ao felizardo, pelo menos, R$ 10 mil líquidos por mês, livrinhos de impostos, taxas e contribuições.
Quem tiver paciência para vencer a burocracia e comprar pessoalmente um título público -seguindo, aí sim, um conselho de uma campanha feita pelo governo do dr. Palocci- terá um rendimento de até R$ 20 mil livres ao aplicar R$ 1 milhão.
Abrir uma padaria ou uma fábrica de cadeiras é um risco hoje. É fácil fazer uma pequena fortuna no Brasil -basta aplicar uma grande fortuna no setor produtivo.
O texto interpretado por Palocci com seu ar sensaborão em rede de TV na sexta-feira teve a redação final de Duda Mendonça. Não deve ter sido do arguto marqueteiro a sugestão para que os brasileiros saiam por aí abrindo fábricas. De quem foi, então? Pouco importa. Essa visão voluntarista e reducionista da realidade predomina dentro do governo Lula.
A desconexão com o mundo real chegou ao máximo nesta frase: "Vencemos essa batalha. A inflação está finalmente controlada".
Controlada? A taxa de inflação esperada neste ano será de 9,71%, como mostra o "Relatório de Mercado", do Banco Central.
A rigor, Palocci tem seguido a máxima de d. João 6º ao chegar o Brasil. "Quando não sabes o que fazer, não faças nada", teria dito o monarca.
Ao fazer quase nada, vá lá, Palocci evitou um colapso da economia.
A mesma estratégia então também poderá lhe servir quando pensar em ir de novo à TV. Se não tiver o que falar, melhor não dizer nada.



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