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FERNANDO RODRIGUES
O devaneio de Palocci
BRASÍLIA - Eu não tenho R$ 1 milhão depositado no banco. Se tivesse,
a última coisa que faria seria seguir o
conselho do ministro da Fazenda,
Antonio Palocci Filho: "É preciso que
os empresários respondam com o investimento de recursos que levem ao
aumento das exportações, das ofertas
de emprego e do consumo".
Só um parvo tomaria o caminho
sugerido pelo médico sanitarista Palocci. Depositar R$ 1 milhão em qualquer agência bancária da esquina
rende ao felizardo, pelo menos, R$ 10
mil líquidos por mês, livrinhos de impostos, taxas e contribuições.
Quem tiver paciência para vencer a
burocracia e comprar pessoalmente
um título público -seguindo, aí sim,
um conselho de uma campanha feita
pelo governo do dr. Palocci- terá
um rendimento de até R$ 20 mil livres ao aplicar R$ 1 milhão.
Abrir uma padaria ou uma fábrica
de cadeiras é um risco hoje. É fácil fazer uma pequena fortuna no Brasil
-basta aplicar uma grande fortuna
no setor produtivo.
O texto interpretado por Palocci
com seu ar sensaborão em rede de TV
na sexta-feira teve a redação final de
Duda Mendonça. Não deve ter sido
do arguto marqueteiro a sugestão
para que os brasileiros saiam por aí
abrindo fábricas. De quem foi, então?
Pouco importa. Essa visão voluntarista e reducionista da realidade predomina dentro do governo Lula.
A desconexão com o mundo real
chegou ao máximo nesta frase: "Vencemos essa batalha. A inflação está finalmente controlada".
Controlada? A taxa de inflação esperada neste ano será de 9,71%, como mostra o "Relatório de Mercado",
do Banco Central.
A rigor, Palocci tem seguido a máxima de d. João 6º ao chegar o Brasil.
"Quando não sabes o que fazer, não
faças nada", teria dito o monarca.
Ao fazer quase nada, vá lá, Palocci
evitou um colapso da economia.
A mesma estratégia então também
poderá lhe servir quando pensar em
ir de novo à TV. Se não tiver o que falar, melhor não dizer nada.
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