São Paulo, quarta-feira, 27 de outubro de 2004

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OBJETIVO DUVIDOSO

Empurrado pela elevação da taxa básica de juros efetuada pelo Banco Central em 15 de setembro, o custo médio das operações de crédito no Brasil aumentou em setembro, passando de 43,9% para 45,1% ao ano. Interrompeu-se, assim, um movimento, iniciado em abril, de lenta redução desse custo, a partir de um nível muito alto.
É o que atestam dados divulgados ontem pelo Banco Central. As estatísticas revelam ainda um segundo elemento a contribuir para o encarecimento do crédito: o aumento do "spread" bancário -isto é, da diferença entre o custo de captação de recursos pelos bancos e a taxa que eles cobram dos tomadores finais dos empréstimos.
O diretor do Banco Central que anunciou os números acrescentou que, na primeira metade de outubro, a alta do custo do crédito teve continuidade. Vale assinalar que isso ocorreu antes da nova elevação da taxa de juros básica, alçada para 16,75% há uma semana. Logo, é lícito presumir que o encarecimento do crédito prossegue.
O fenômeno é evidentemente negativo para famílias e empresas que precisam de crédito para ajudar a custear suas compras e girar seus negócios. Mas deve estar sendo comemorado pelos responsáveis, no Banco Central, por definir a taxa básica de juros. Afinal, a despeito dos torneios retóricos com que o Comitê de Política Monetária vem justificando suas decisões de aumentar os juros, sua intenção é precisamente encarecer o crédito, visando conter a demanda por bens e, por essa via, limitar a alta dos preços.
A questão é saber se perseguir uma meta de inflação exageradamente ambiciosa constitui justificativa cabível para o sacrifício da atividade econômica induzido pela elevação do custo do crédito. As perspectivas de crescimento em 2005, que já se encontravam prejudicadas pela iminente desaceleração da economia global, vão se amesquinhando a golpes de aumento de juros.


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