São Paulo, quarta-feira, 27 de outubro de 2004

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PLANO SHARON

Numa decisão histórica, o Knesset (Parlamento israelense) aprovou por 67 votos a 45 a proposta do premiê Ariel Sharon de retirar da faixa de Gaza os assentamentos judaicos e as tropas do Exército que os protegem. Embora conte com a aprovação da maioria dos israelenses, o plano de Sharon é visto como traição por religiosos e pela extrema direita. Nos anos 70, Sharon foi o grande incentivador de assentamentos judaicos em terras palestinas.
A controvérsia em torno da proposta está levando a um realinhamento de forças na política israelense. Partidos ultra-religiosos, aliados tradicionais do Likud, a legenda do premiê, vão se afastando da coalizão de governo. Para ficar, exigem a convocação de um referendo, com o que Sharon dificilmente concordará. Em contrapartida, vão se aproximando do premiê seus rivais históricos, os trabalhistas, que defendem o princípio de trocar território por paz.
O próprio Likud está dividido. Deputados fiéis às bases conservadoras da legenda -que incluem os colonos dos assentamentos- votaram contra a retirada. Alguns ministros, que acabaram se posicionando em favor da proposta para não serem demitidos, também cobram a realização do referendo.
Embora a decisão de deixar Gaza se revele penosa para os israelenses -e em especial para Sharon, outrora o paladino dos colonos-, ela nem de longe é suficiente para garantir um entendimento com os palestinos. Muito pelo contrário, há entre os árabes o receio fundado de que Sharon pretenda entregar Gaza para conservar assentamentos na Cisjordânia, em maior número e mais populosos.
A aprovação da retirada de Gaza é uma boa notícia, mas é preciso que essa não seja uma iniciativa que se encerra em si mesma. Para que haja um entendimento entre israelenses e palestinos, será necessário criar um Estado palestino viável, o que exige a retirada israelense de todos os territórios ocupados. Sem isso, a paz na região continuará sendo apenas uma palavra usada, aliás por ambas as partes, como saudação.


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