São Paulo, sábado, 27 de outubro de 2007

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Descompasso

DADOS recentes reforçaram a expectativa de que, já no ano que vem, o Brasil voltará a apresentar saldo negativo no balanço de suas relações financeiras com o resto do mundo -a chamada conta de transações correntes. Embora não preocupe no curto prazo, esse fenômeno será danoso caso se prolongue.
O fortalecimento das contas externas foi uma das mais importantes mudanças observadas no quadro macroeconômico brasileiro nos últimos anos. O movimento foi liderado, de início, por uma rápida inflexão no saldo do comércio exterior.
Para tal transição, ocorrida entre os anos de 2000 e 2003, contribuíram dois fatores principais: a desvalorização do real e o abalo do consumo doméstico, num quadro de grande desemprego e queda no poder de compra do salário. A esses elementos veio agregar-se, em seguida, uma melhora substancial e duradoura dos termos de troca -isto é, uma evolução mais favorável dos preços dos bens que o país exporta, comparativamente aos daqueles que são importados.
No período mais recente, a aceleração do mercado interno e a valorização do real vêm produzindo desgaste do superávit comercial. Essa deterioração se manifesta lentamente graças à persistência de termos de troca favoráveis. É aqui que chegamos ao ponto que requer mais atenção das autoridades: a taxa de crescimento das importações acelerou-se muito, ao passo que a das exportações vem caindo.
No presente, o dinamismo das compras externas supera por larga margem o das vendas. Essa é uma situação que pode perdurar sem fragilizar as contas externas por algum tempo -mas não indefinidamente. O desafio que se colocará para a política econômica, num futuro que se aproxima, é o de reduzir o descompasso entre importações e exportações sem sacrificar o crescimento nem prejudicar o controle da inflação.


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