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Descompasso
DADOS recentes reforçaram
a expectativa de que, já no
ano que vem, o Brasil voltará a apresentar saldo negativo
no balanço de suas relações financeiras com o resto do mundo
-a chamada conta de transações
correntes. Embora não preocupe
no curto prazo, esse fenômeno
será danoso caso se prolongue.
O fortalecimento das contas
externas foi uma das mais importantes mudanças observadas
no quadro macroeconômico brasileiro nos últimos anos. O movimento foi liderado, de início, por
uma rápida inflexão no saldo do
comércio exterior.
Para tal transição, ocorrida entre os anos de 2000 e 2003, contribuíram dois fatores principais: a desvalorização do real e o
abalo do consumo doméstico,
num quadro de grande desemprego e queda no poder de compra do salário. A esses elementos
veio agregar-se, em seguida, uma
melhora substancial e duradoura dos termos de troca -isto é,
uma evolução mais favorável dos
preços dos bens que o país exporta, comparativamente aos
daqueles que são importados.
No período mais recente, a
aceleração do mercado interno e
a valorização do real vêm produzindo desgaste do superávit comercial. Essa deterioração se
manifesta lentamente graças à
persistência de termos de troca
favoráveis. É aqui que chegamos
ao ponto que requer mais atenção das autoridades: a taxa de
crescimento das importações
acelerou-se muito, ao passo que
a das exportações vem caindo.
No presente, o dinamismo das
compras externas supera por
larga margem o das vendas. Essa
é uma situação que pode perdurar sem fragilizar as contas externas por algum tempo -mas
não indefinidamente. O desafio
que se colocará para a política
econômica, num futuro que se
aproxima, é o de reduzir o descompasso entre importações e
exportações sem sacrificar o
crescimento nem prejudicar o
controle da inflação.
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