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FERNANDO GABEIRA
Brasília teimosa
O GOVERNO acha que leva
muita pancada da mídia. E
inventou uma falsa solução
para o problema: a tevê pública.
Apesar do seu pequeno exército de
comunicadores, os assessores de
imprensa, foi incapaz de achar uma
resposta para os problemas de comunicação na crise aérea. E é incapaz, independentemente de suas
idéias, de navegar, com inteligência, na grande imprensa, apesar de
ter o maior espaço.
A forma que escolheu -a medida
provisória-, com escasso debate e
rígidos prazos, exclui uma melhor
contribuição dos opositores. E, de
certa forma, nega a expressão pública. A estrutura de contratados,
nos primeiros 36 meses, é tão dependente do governo que pode ir
para os ares com um simples espirro do presidente.
O dinheiro que pretende gastar,
R$ 350 milhões, é pouco para erguer uma tevê e uma enormidade
se for malbaratado. A tendência será buscar dinheiro com as empresas, concorrendo com as emissoras
comerciais. É difícil resistir à persuasão de um governo. Quem duvidar desse poder, tente convencer
um deputado ou senador a votar
contra ele.
O dinheiro é curto, e o talento específico também. Os nomes na mesa são de comentaristas saídos das
grandes tevês comerciais. Comentaristas na tevê são uma reminiscência radiofônica. Trazem sua
mensagem verbal e são incapazes
de interpretar o fluxo de imagens
em que estamos envolvidos. Mesmo Jabor, que veio do cinema, optou, talvez por uma questão de
tempo e de recurso, por um estilo
teatral.
Pouco dinheiro e talento associados costumam produzir fracasso. Por que se incomodar então? O
dinheiro é público e não se deve desejar o pior para o adversário. O governo precisa de um software e decidiu comprar uma geringonça. É
possível que leve mais pancada ainda ao tentar resolver seu problema
de forma errada.
Trabalhei em emissoras públicas. No exterior, elas contavam o
dinheiro para fazer suas emissões
internacionais. Na medida provisória, nem se discute isso. É uma
tevê voltada para dentro, sem
apoio da oposição, controlada pelo
presidente da República. Lula
(bad) news.
Impressionante como, em tempo de convívio, a esquerda não conseguiu entender a imprensa. Chávez fechou uma grande emissora e
amarga, hoje, baixos índices de audiência com seu projeto. A divergência não é sobre imprensa; no
fundo, é sobre democracia.
Sem cláusula de performance,
criada com essa pressa, o governo
se dá ao luxo de esnobar os caminhos da mídia existente e refugiar-se na sua tevê, isto é, na sua torre
de pixels.
assessoria@gabeira.com.br
FERNANDO GABEIRA escreve aos sábados nesta
coluna.
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